sábado, 29 de dezembro de 2012

Explorando os Domínios da Realidade Mental

Às vezes acontece de alguém nos dizer que não devemos nos preocupar com o passado, porque o passado já se foi, e também não devemos nos preocupar com o futuro porque o futuro ainda não aconteceu e, só existindo o presente, deveríamos nos concentrar no presente. Eu mesmo já escrevi um post sobre o tempo (Reflexões Sobre o Tempo) em que eu procurei demonstrar que, de fato, o futuro não existe como realidade física, nem o passado. Mas será que, no dia-a-dia, é possível aplicar essa forma de se pensar?

Por exemplo, no que diz respeito ao dinheiro (que é um exemplo bem prático e fácil) e, tornando esse exemplo mais específico: o momento em que recebemos o salário mensal (para quem é assalariado, é claro). Eu devo pensar apenas na minha situação presente, que seria um pouco mais de dinheiro na minha conta corrente e gastá-lo por ignorar o futuro? É óbvio que não, afinal deve-se planejar as despesas. Mas, se o tempo não existe e se apenas o presente existe, isso não é contraditório com a ideia de focalizar-se no presente?

A resposta é Sim. Focalizar apenas no “aqui e agora” é uma conclusão simplória, cujos efeitos acabam demonstrando a sua invalidade. De fato nem toda realidade é física no sentido de ter que existir em algum lugar no espaço. As dinâmicas da natureza, e também as dinâmicas daquilo que é criado pelo ser humano, não existem de forma física. Não se pode pegar uma dinâmica de acontecimentos (não se pode guardá-los dentro de uma gaveta). O ritmo da sucessão dos fatos é o que percebemos como o tempo, e o tempo é uma percepção mental (não-física), mas que prova-se confiável conforme observamos a realidade. Em outras palavras, nós experimentamos percepções mentais que podem, ou não, estar relacionadas à realidade física. Podemos dizer que há uma realidade mental que interage com a realidade física.

Em alguns casos, a realidade mental é amplamente comunicada, documentada e validada no mundo físico, como no caso da ciência (cuja função eu procurei introduzir no post O Papel da Ciência). Porém, o que há de interessante atualmente é que os computadores estão assumindo parte deste trabalho mental, embora de uma forma muito rudimentar. Pode-se argumentar que não se trata de verdadeira inteligência, nem de verdadeira consciência, porém a matéria que forma os computadores é também feita de átomos, os quais são feitos de partículas mais elementares ainda, que também constituem o que nós somos fisicamente. Nossos corpos têm energia, assim como os computadores também a têm. Então, se evoluímos para nos tornarmos seres conscientes, também os computadores podem fazê-lo eventualmente (o post Quando Tudo é Divino: Um Universo Sem Criador e Sem Criatura explora um pouco mais a relação entre matéria e espírito, a qual também se aplica a computadores e espírito). Muitos de nós não querem que os computadores criem suas próprias percepções de bem e mal, ou de certo e errado. Talvez não seja a primeira vez que isso aconteceu. Dêem uma olhada neste trecho bíblico:

A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos, que Iahweh Deus tinha feito.
Ela disse à mulher: "Então Deus disse: Vós não podeis comer de todas as árvores do jardim?" A mulher respondeu à serpente: "Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Dele não comereis, nele não tocareis, sob pena de morte."
A serpente disse então à mulher: "Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal."
(Gênesis, 3, 1-5, Bíblia de Jerusalém)

Mais adiante, outro trecho relacionado:

Depois disse Iahweh Deus: "Se o homem já é como um de nós, versado no bem e no mal," que agora ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!"
E Iahweh Deus o expulsou do jardim de Éden para cultivar o solo de onde fora tirado. Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida.
(Gênesis, 3, 22-24, Bíblia de Jerusalém)

Prosseguindo sobre as abstrações mentais, algumas são tão precisas em relação aos eventos físicos que confundimos muitas vezes a realidade física com a realidade mental, e vice-versa. Chegamos a acreditar que uma lei científica (presente na realidade mental, mesmo que registrada fisicamente) é uma lei natural, ou seja: uma realidade física. É justamente este tipo de confusão que devemos evitar.

A realidade mental nos fornece informações sobre as possíveis dinâmicas dos acontecimentos e seus desdobramentos, nos revelando as possibilidades de transformação do momento presente e também sobre como interferirmos para favorecermos algumas possibilidades, em detrimento de outras. Ou seja, embora nossos pensamentos não representem necessariamente o que ocorre no mundo físico e nossos receios possam parecer infundados muitas vezes, estes mesmos pensamentos devem ser levados seriamente em consideração até que se chegue a uma resposta adequada a eles (seja respondendo a uma dúvida, ou provando sua irrelevância) e à realidade física. O importante é dar atenção a cada domínio da realidade e saber discernir entre estes domínios, harmonizando-os.

Há dois erros a evitar: não se deve deixar cair no erro de tornar-se paranoico, acreditando no pior apenas porque possuímos uma dúvida que aponta para uma uma possibilidade negativa; e nem tampouco devemos acreditar que tudo são flores no mundo só porque visualizamos uma possibilidade positiva mentalmente.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Equilibrando-se Para Manter-se Constante

Muitos de nós, que buscamos seriamente nos desenvolver no ocultismo e na magia, nos dedicamos tanto a este objetivo que esquecemos daquilo que parece ser importante para as demais pessoas, aquilo que parece ser mais trivial: as relações familiares, as oportunidades profissionais, os momentos de lazer, enfim, as situações diversas do cotidiano de uma pessoa comum. Caímos muitas vezes no erro de acreditarmos que não somos pessoas comuns, que podemos nos fortalecer tendo como exemplo a imagem de um “super-homem”, extremamente forte, invulnerável, que até é capaz de misturar-se ao mundo, mas jamais comunga com o mundo, jamais se revela plenamente a ele, ocultando sempre sua identidade secreta.

A verdade é que, quando nos deixamos levar por esta atitude, não conseguimos mantê-la por muito tempo. Nada do que é permanente na natureza permanece em um estado só. Todo tipo de ação necessita de repouso, para que depois do repouso surja a ação de novo. A vida na Terra, por exemplo, vem se mantendo porque há um fenômeno denominado “morte” que faz com que a matéria que compõe os seres vivos se recicle. Se a morte jamais viesse, a matéria eventualmente se consumiria, e não haveria mais como se gerar novos seres vivos.

Houve um tempo, nos primórdios da vida neste nosso planeta, que a atmosfera era extremamente carregada de gás carbônico, de forma que os primeiros seres vivos que surgiram respiravam este gás e liberavam oxigênio. Se nada ocorresse, o gás carbônico seria totalmente consumido e a vida cessaria. Este era um perigo real para a vida. Porém a vida evoluiu e surgiram os seres capazes de respirar justamente o oxigênio, liberando então o gás carbônico, seres do qual nós fazemos parte. E assim, como se estabeleceu um ciclo, a vida prosseguiu constante. Um outro exemplo: até mesmo um fenômeno simples, como a chuva, faz parte de um ciclo, onde existe a chuva, propriamente dita, que alimenta os rios e as plantações e que umedece o nosso ar, regulando também a temperatura ambiental, e existe também a evaporação cujo efeito irá condensar novas nuvens, que permitirão novas chuvas, mantendo novamente a constância.

Só há dois tipos de fenômenos constantes na natureza: aqueles que são imutáveis, feito rochas, praticamente estéreis em suas relações; e aqueles que são cíclicos, que vivem transições de estados que, equilibradas, permitem existências perenes. Portanto, se desejamos permanecer firmes em nossos propósitos, precisamos ser capazes de abandoná-los eventualmente, recuperarmos nossas energias, e então nos concentrarmos de novo.

Mas nem sempre percebemos quando precisamos do repouso. Às vezes nos deixamos levar por rotinas, por um modo único de fazer as coisas, condições que impomos a nós mesmos. Acontece também de buscarmos implacavelmente resultados, a ponto de nos esgotarmos, e ainda assim prosseguimos tentando, como se não tentar fosse desistir. O resultado é que caímos enfraquecidos. Eu mesmo caio neste tipo de cilada mental com alguma frequência, mas então eu percebo o que está de fato acontecendo nestes momentos. E para intervir com eficiência, eu tomo algumas medidas aparentemente contraprodutivas: eu deixo um trabalho para outro dia, me dedicando a outra coisa, ou alongo um prazo pessoal de uma semana para duas, deixo de cumprir uma expectativa de alguém com relação à qual não estou conseguindo cumprir, etc. Tudo isso acaba contribuindo para que eu recupere minhas forças e me levante novamente.

A ideia central é o equilíbrio. Pense naquele equilibrista de pratos que mantém um monte de pratos girando. Ele gira um prato de cada vez. Ele não consegue girar todos os pratos de uma vez só. Então ele fica atento ao que está mais desequilibrado e dá um reforço para aquele prato, reforçando o giro, e assim mantém todos equilibrados. É exatamente assim que devemos procurar ser. Precisamos identificar o que está desequilibrando em nossas vidas, esquecer o resto e dar atenção àquele ponto específico. Quando quem amamos precisa de nossa presença e carinho, paramos e damos atenção e carinho. Quando as crianças precisam de nós, nos voltamos para as crianças. Quando o trabalho requer nossa atenção, focalizamos no trabalho. Quando nos cansamos, descansamos. Quando nos entendiamos, quebramos a rotina.

Então vem o medo: e se deixarmos algo desequilibrar por muito tempo, e aquilo cair e ruir. Daí vem uma segunda ideia, a de que não devemos agir sozinhos. Não devemos procurar controlar a realidade ao nosso redor em todos os detalhes diretamente. Não devemos supervisionar tudo o que acontece. Simplesmente não conseguimos fazer isso. No nosso relacionamento com o mundo, não é benéfico “pescar o peixe”, e sim ensinar a pescar. Assim, quando nos ausentarmos, alguém nos substitui. Da mesma forma, devemos aceitar o ritmo das pessoas ao nosso redor, principalmente quando precisam ausentar-se, ou quando não conseguem acompanhar o ritmo que desejamos manter. Agindo assim, seremos constantes em nossos ideais e, mais importante, quando não estivermos presentes, o mundo será capaz de mantê-los sem nós.

Estes são princípios que nem sempre conseguimos realizá-los, muitas vezes falhamos em um ou outro. Mas quando nos concentramos neles, tendemos a executá-los de forma cada vez mais perfeita. Basta usar os próprios recursos que se tem, entre eles a imaginação, a emoção, o desejo e a razão e, sendo tolerante consigo mesmo, tornando-se cada vez melhor.

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Papel da Ciência

Nos últimos séculos o ramo do conhecimento que mais tem desafiado a magia, o esoterismo, e até mesmo a religião, é aquele que chamamos de ciência (ou melhor dizendo, as ciências exatas, entre elas sendo considerada a Física como o pivô desse desafio). Não que os cientistas sejam todos céticos. Não é esse o ponto. De fato é precisamente o oposto, para a ciência, não importa o que o cientista pensa, nem quais sejam suas posições pessoais, nem onde viveu, nem quando viveu (a ciência não é feita só de conhecimento novo). A ciência é um corpo de conhecimentos que se forma a partir de observações múltiplas, da coletividade dos cientistas, de onde surgem teorias que são postas à prova em experimentos, os quais nada mais são do que formas de se obter novas observações. É assim que funciona o método científico e é por isso que o que esse método descobre é tão eficaz: é um conhecimento verificado, que se torna a base da tecnologia e a tecnologia se mistura ao ser humano, modificando-o e modificando o mundo também, por extensão.

A ciência, por ser formada por um conhecimento verificado, e também por causa de todos os benefícios que ela tem trazido ao mundo do ponto de vista tecnológico, é, sem dúvida, imensamente sedutora. Quando se diz que algo é científico, o que quer que seja, passa a ser considerado como verdadeiro, ou pelo menos um candidato muito provável a ser verdade. Já quando se diz que algo não é científico, as pessoas tendem a acreditar que é falso. Mas isso não deveria ser assim, afinal, apenas porque algo ainda não foi verificado cientificamente, não quer dizer que seja falso. Ainda assim, torna-se cada vez mais difícil manter certas posições arraigadas quando a ciência insistentemente aponta para outra direção. Por exemplo, citemos o Gênesis bíblico, o qual muitas pessoas ainda acreditam ser uma descrição literal de como o mundo foi criado:

Deus disse: "Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas", e assim se fez. Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou ao firmamento "céu". Houve uma tarde e uma manhã: segundo dia. Deus disse: "Que as águas que estão sob o céu se reúnam numa só massa e que apareça o continente" e assim se fez.
(Gênesis 1; 6-9 - Bíblia de Jerusalém)

A despeito de todo conteúdo ocultista que haja no texto, está também revelado aí como pensavam as pessoas, sobre a criação do mundo, na época em que foi escrito, em que a ciência como a conhecemos era ainda primitiva. O que se destaca neste trecho específico diz respeito à água. A ideia é que havia água em toda a parte (a Bíblia não deixa claro como a água surgiu) e que foi feito um firmamento (algo firme, pensemos numa redoma como metáfora) que separou a água acima (formando o céu), da água abaixo (os mares), e depois da água surgiram os continentes. Afinal o céu é azul, não é? E chove também a partir dele. Isso tudo só pode indicar que é cheio de água. Ou pelo menos era o que parecia para as pessoas na época. Ainda sobre o firmamento:

Deus disse: "Que haja luzeiros no firmamento do céu para separar o dia e a noite; que eles sirvam de sinais, tanto para as festas quanto para os dias e os anos; que sejam luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra" e assim se fez.
Deus fez os dois luzeiros maiores: o grande luzeiro para governar o dia e o pequeno luzeiro para governar a noite, e as estrelas. Deus os colocou no firmamento do céu para iluminar a terra, para governarem o dia e a noite, para  separarem a luz e as trevas, e Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde e uma manhã: quarto dia.
(Gênesis 1; 14-19 - Bíblia de Jerusalém)

Os luzeiros, nessa explicação, foram colocados na redoma. O Sol e a Lua se movendo nela, e as estrelas afixadas. As pessoas sequer imaginavam que o universo estava (e está) em expansão, de forma que as estrelas não tem posições fixas. Na realidade, essa forma de pensar, de um universo eternamente estacionário, continuou até o começo do século XX, até que observações mostraram o contrário.

Eu gosto desta visão de Stephen Hawking, um físico notório da atualidade, em seu livro O Universo Numa Casca de Noz:

Uma teoria científica segura, seja do tempo ou de qualquer outro conceito, deve, na minha opinião, ser baseada na mais viável filosofia da ciência: a abordagem positivista formulada por Karl Popper e outros. Segundo essa maneira de pensar, uma teoria científica é um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos. Uma boa teoria descreverá uma vasta série de fenômenos com base em uns poucos postulados simples e fará previsões claras que podem ser testadas. Se as previsões concordam com as observações, a teoria sobrevive àquele teste, embora nunca se possa provar que esteja correta. Por outro lado, se as observações discordam das previsões, é preciso descartar ou modificar a teoria. (Pelo menos, é isso que deveria acontecer. Na prática, as pessoas muitas vezes questionam a exatidão das observações, a confiabilidade e o caráter moral de seus realizadores).

Esta citação resume a essência da ciência e também o seu valor. Essa essência, por mais que nos incomode, não deve ser mudada. É ela que nos garante o eterno questionamento que nos aponta a nossa própria cegueira. É claro que o conhecimento científico é apenas uma pequena parte da Verdade. Há muito que ainda precisa ser verificado para se tornar verdade científica. Muitos de nós gostaríamos que o que pensamos fosse tornado parte desse corpo de conhecimento sem mudanças, e essa é uma aposta ainda mais cega quando não questionamos as raízes do que sabemos, confiando, sem questionar, em dogmas que não criamos. Para nosso alívio, não podemos nos esquecer que a ausência de evidências não é a mesma coisa que a evidência da ausência, o que significa que não precisamos procurar justificar nossa forma de pensar e ser, com base exclusiva no que postula a ciência. Na realidade há duas falhas que devemos evitar: a primeira é ignorar a ciência; a segunda é endeusá-la. Precisamos aceitar que a ciência de um lado, e a magia, o esoterismo e o ocultismo de outro, têm naturezas diferentes, porém complementares e que irão interagir, transformando-se. O fato é que o conhecimento da verdade absoluta não está em lugar algum. Deixo aqui um comentário de Carl Sagan (09/11/1934-20/12/1996), astrônomo e astrofísico renomado por divulgar a ciência ao público leigo, a respeito de uma conversa que teve com Dalai Lama (o livro de que foi retirada a citação, apesar do título, não se trata de demonologia e sim da relação da ciência com demais campos de conhecimento):

Quando discuto teologia com líderes religiosos, pergunto freqüentemente qual seria a sua reação se um dogma central de seu credo fosse refutado pela ciência. Quando fiz essa pergunta ao atual dalai-lama, o 14.º, ele me deu sem hesitar uma resposta que nenhum líder religioso conservador ou fundamentalista daria: nesse caso, disse ele, o budismo tibetano teria de mudar.
- Ainda que fosse um dogma realmente central - perguntei - como a reencarnação?
- Ainda assim - ele respondeu. Entretanto - acrescentou com uma piscadela - vai ser difícil refutar a reencarnação.
Sem dúvida, o dalai-lama tem razão. A doutrina religiosa imune à refutação tem poucos motivos para se preocupar com o progresso da ciência.
A idéia grandiosa, comum a muitos credos, de um Criador do Universo é uma dessas doutrinas - é igualmente difícil prová-la ou refutá-la.
(“O Mundo Assombrado pelos Demônios”, de Carl Sagan)

sábado, 8 de dezembro de 2012

O Início do Caminho de um Mago

Há pessoas que tentam e há pessoas que se comprometem. Destes dois, que tipo de pessoa você é? Eu coloco esta questão logo de início porque há muitos que se interessam pelo ocultismo e até se envolvem um pouco, mas sempre com um tanto de medo, de reserva, como se estivessem testando as possibilidades, e nunca se firmam em coisa alguma. São pessoas que às vezes acreditam que sabem algo por possuírem alguma erudição mas, na realidade, sabem apenas teoricamente, sem jamais terem colocado em prática uma teoria sequer, em meio às tantas que populam suas mentes.

Mal sabem eles que estão enganados porque, especialmente no que diz respeito ao ocultismo, o intelecto não basta para se atingir o crescimento. É frequente que se tenha que dar o salto da ideia para a ação e este salto sempre tem seu risco inerente. Quando alguém passa a vida tentando, verificando possibilidades, mas sempre paralisando-se pelo medo, é porque não atingiu ainda o comprometimento consigo mesmo e passa a vida impulsionado por uma fantasia, por uma vaidade (utilizando um termo mais adequado).

Mas as portas não se abrem para aquele que age por vaidade, e sim por necessidade. O vaidoso não dá valor ao que obtem. Tudo sempre lhe parece pouco. Quando encontra algo que não compreende e lhe parece transcendente, humilha-se e rende elogios. Quando encontra um defeito, trai aquele que lhe estendeu a mão tão rapidamente quanto o elogiou anteriormente. É por isso que há o oculto (e, por extensão, o ocultismo): porque a confiança não pode ser dada a qualquer um. Não se pode trazer para dentro de um círculo, que pressupõe união e proteção, aquele que traz em si a semente da desunião.

No que diz respeito à busca pessoal, não se trata de simplesmente tentar algo. Trata-se de criar o alicerce para todo o desenvolvimento que se seguirá na magia. Esta base precisa ser o mais perfeita possível, e precisa ser procurada de forma individual. Ela não pode ser ensinada por outras pessoas porque não tem valor se for obtida assim (o que não quer dizer que não possamos observar outras pessoas e mesmo interagir com elas). É uma base que vem de tudo o que se é, das próprias dúvidas, das paixões (sim, até mesmo as paixões), da imaginação, dos sentimentos, das sensações físicas, dos objetivos intelectuais, dos planos mais diversos que se possui, buscando a congruência, por mais incongruente que tudo isso seja. Enfim, é preciso olhar para as próprias vísceras e, buscar realizar a si mesmo, provar a si próprio de que se é digno dessa realização e, só então, obtendo esta congruência, uma resposta é encontrada. A resposta que dá sentido à toda a busca que a precedeu e, ao mesmo tempo, é o alicerce de toda a realização que se segue.

Todo aquele que encontra esta resposta individual à questão que é si próprio, o faz porque acreditou na existência da mesma e a buscou com todos seus meios. Nesse processo, certamente transformou-se, e é daí que vem o mérito para encontrá-la. Este é o primeiro grande salto. É o que torna alguém, de fato, iniciado. É esta a iniciação que separa o neófito do mago (ou magista, como se constuma dizer atualmente). E este é um salto que só pode ser compreendido quando vivido. Haverá, é claro, com o passar dos anos depois disso, muitas outras ilusões e transformações com frequência dolorosas. Mas este é o início.

Então, vem a pergunta: é isto que é um mago? Afinal diz-se tanto sobre os magos, quase como se fossem sobre-humanos. E muitos acreditam mesmo que o verdadeiro mago deve chegar às raias da perfeição. É por isso que as pessoas acreditam ser melhor, mais humilde, se considerarem magistas do que magos. Porém, eu acredito que esta é a primeira experiência de um mago: o início de um longo caminho. A iniciação é mais que uma experiência individual pois é uma nitida experiência de contato com uma realidade mais ampla, que vai além das aparências deste mundo físico e, ao mesmo tempo o interconecta. É o contato com uma realidade arquetípica. É óbvio que há magos que já percorreram longamente seus caminhos, da mesma forma que há aqueles que estão apenas no princípio de suas buscas. O mago possui algum entendimento e sabedoria, mas jamais possuirá todo entendimento e toda sabedoria. Na realidade, ele possui o que necessita, não o que lhe seria vaidade.

domingo, 25 de novembro de 2012

Como Agir Diante do Bombardeio de Respostas no Mundo

Quantas vezes acontece de se apresentarem, diante de nós, respostas para a vida? E cada uma delas é apresentada como a única resposta certa, invalidando todas as outras. Depois de um tempo, quem nos deu a resposta muda de ideia, como se aquela ideia perfeita não mais valesse, e então nos oferece uma nova, perfeita de novo. Há tantos que se oferecem com respostas perfeitas que nem sabemos por onde começar.

Estamos recebendo um verdadeiro bombardeio de respostas, sem termos sequer formulado uma pergunta. Apenas aproximam-se de nós e dizem “Eu tenho a resposta para sua vida”, e então se dissermos “Você conhece a minha vida?”, simplesmente nos tratam como se não importassem nossas particularidades pois, quaisquer que elas sejam, estão presumindo que a resposta oferecida é perfeita. Caso realmente provemos que nossas particularidades não se ajustam à resposta (o que tornaria a resposta inadequada), nos é dito que não é a resposta que é inadequada, e sim nós que o somos. Nós que não pegamos o X da questão e, portanto, deveríamos ouvir mais e falar menos.

Entramos assim, sem querer, em um jogo de hierarquias onde existem aqueles que têm mais acesso à uma pressuposta verdade e que estão em uma posição natural de líderes, e também existem aqueles que apesar de indígnos de ter acesso a verdades tão maravilhosas, têm a oportunidade (a sorte) de ter a benevolência dos superiores, e que fariam muito bem se deixassem-se guiar submissos, ao invés de ficarem fazendo perguntas irrelevantes que só tiram as pessoas do propósito verdadeiro. É assim que as pessoas se deixam influenciar. É assim que pessoas conscientes se transformam em uma massa humana, muitas vezes sendo comparadas a um grande e imenso gado.

Particularmente, essa massa humana se forma principalmente em situações de opressão. Parece que quantos menos você tem, quanto mais difíceis as condições de realização no mundo, mais suscetíveis as pessoas são de pensarem de uma forma diferente. É nesse momento que as pessoas podem ser manipuladas a acreditarem em algo que, em outras condições, não acreditariam. Há um lado positivo nessa condição, quando chega a abrir nossas mentes e até mesmo nos conduz a uma autêntica experiência mística (veja o post A Bíblia e a Experiência Mística, que explora esta condição), a qual é uma experiência de contato consigo mesmo, encontrando, em si, o divino. Mas também há o lado negativo, que é sermos mais facilmente manipuláveis nestas condições. Como exemplo negativo está o nazismo, no qual o povo alemão deixou-se levar por uma ideologia de ódio e preconceito, justamente porque estavam desacreditados dentro de uma grave crise econômica.

As pessoas, quando tomam atitudes nessas condições, tendem a mudar suas crenças devido ao fenômeno da dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva, em linhas gerais, é nossa tendência a ajustarmos nossos valores e crenças quando fazemos algo que consideramos inaceitável, de forma que passamos a aprovar nossos próprios atos, os quais deixam de ser incompatíveis com nossa nova forma de pensar e acreditar. Quanto mais gritante for a incompatibilidade entre nossas atitudes quando comparadas às nossas crenças e valores, maior é a dissonância cognitiva, e maior o ajuste nestas mesmas crenças para que sejamos capazes de nos sentir melhor, sendo esta uma transformação muito mais profunda do que uma mera mudança de atitude.

Este fenômeno acontece, com grande frequência, no âmbito da religião. A religião, embora tenha uma conotação de religar-se ao divino (o post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura explora esta conotação), não têm este sentido quando representada pela grande maioria das religiões que existem no mundo atual. Na verdade, nestas religiões costumam ocorrer grandes massas de pessoas submissas a hierarquias de controle, ao invés de haver pessoas verdadeiramente conscientes. Estas religiões se valem amplamente da dissonância cognitiva para plantarem dentro das pessoas os seus dogmas, de forma que as pessoas já não precisam mais ser controladas, pois controlam a si mesmas. Mesmo quando a sociedade não vive situações opressivas, as religiões também conseguem exercer influência sobre as pessoas pois, quando um indivíduo destoa da maioria, a ação desta maioria se torna opressiva por ser baseada em julgamentos de valores morais (ou seja: padrões de certo ou errado, pertinentes à cada crença). Como tratam-se de hierarquias de controle, com diversas ramificações, existem diferenças de status entre as pessoas, uma desigualdade entre os indivíduos e, embora haja um grande moralismo inerente à cada religião, pouco existe de ética, uma vez que a ética é fundamentada na igualdade.

As pessoas frequentemente se encontram dentro desse processo sem que o percebam. De fato, compreender esse processo ocorrendo é o passo inicial para nos descondicionarmos dele e começar a agir verdadeiramente com consciência na própria vida. É uma transformação que começa pela análise dos atos, e então das atitudes, e prosseguindo cada vez mais para dentro de cada um, até o questionamento das próprias crenças (o qual pode ser dolorido). Para fornececer alguns insights, há os posts Modelando as Próprias Crenças (o qual pretende ajudar a começar este questionamento), Libertando a Si Mesmo (que tem enfoque na liberdade de pensamento, intrínseca a todo ser humano) e Questionando a Definição de Deus, o qual procura quebrar algumas visões que são aceitas comumente, embora sejam incongruentes entre si e, mesmo assim, não são questionadas (este último post tem um enfoque proposital em quebrar crenças e pode causar uma certa desorientação a princípio).

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Uniões Baseadas em Troca X Uniões Baseadas em Ideais

Há dois tipos de uniões. Uma é a união por motivo de interesse, onde existe a troca de uma coisa por outra. E a outra é a união com base em um ideal comum, ou no prazer comum de estar junto ou de sentir-se como que pertencendo a algo.

No tipo em que impera a troca, a união cessa quando um lado não tem mais o que oferecer, ou seja, quando acaba a "moeda de troca". Essa "moeda de troca" pode ser o dinheiro, mas também pode estar representada por meios mais sutis como, por exemplo, a subserviência, como impera na magia negra quando alguns buscam servir a algo ou alguém que consideram mais forte e poderoso, na esperança que ganhem algumas migalhas e tenham mais "sorte" do que outras pessoas que aparentemente seguem pela senda mais difícil.

Mas este tipo de subserviência não se limita à magia negra exclusivamente pois, na realidade, também pode ser motivada pela inconsciência. É a inconsciência que leva uma pessoa a adotar falsamente uma "postura cristã" (embora não se possa generalizar todos os cristãos) em que afirma amar e adorar Jesus, uma vez que após a morte é essa adoração que lhe garantirá a vida eterna no paraíso, ao invés da danação eterna. Mas acontece que esta pessoa pouco conhece a respeito de quem é Jesus para que possa realmente amá-lo. Mas isso não importa, pois o que precisa ser feito é evitar a danação eterna... Interessante como muitas religiões tiram proveito disso, aproveitando o fato de que as pessoas não são perfeitas quando comparadas a um Jesus mítico (que não é a mesma coisa que o Jesus histórico), e fazendo-as sentirem-se constantemente em débito e, muitas vezes, a forma simples de saldar esse débito é com dinheiro (relação de troca).

Percebe-se que não são questionamentos puramente imorais, nem tampouco puramente morais, que estão envolvidos nas uniões baseadas em troca, pois a troca pode ser tanto movida por um impulso moral (no caso do cristão, por exemplo) ou imoral (no caso da magia negra, por exemplo). O que de fato caracteriza a união baseada na troca é que ela não é sustentada pelo que uma pessoa é, mas pelo que ela tem, ou pela vantagem que ela pode oferecer, normalmente de forma imediata.

Já na união por um ideal, não importa aquilo que você possui, nem aquilo que você pode oferecer no momento, mas aquilo que você ama. Na sua forma mais comum, é o que une as pessoas quando se amam (seja um casal, sejam pais e filhos, etc), e é também o que une as pessoas em uma causa comum (proteger a natureza, combater a miséria, etc). Na magia existem uniões entre o mago e o que está em ressonância a ele. Quando estas uniões se estabelecem por ideais comuns, o que quer que seja feito no mundo para outras pessoas, deve ser feito de graça ou pelo mínimo custo. Pois não é lícito pagar por algo que é a manifestação de um dom gratuíto. É evidente que as pessoas têm despesas, principalmente quando se dedicam desinteressadamente a um propósito e, nesse caso, não se deve confundir o conceito de “pagar por algo” como se fosse a mesma coisa que “ajudar nas despesas”.

No entanto, no esoterismo e ocultismo, há quem exija pagamentos realmente extorsivos, muito além do que se poderia chamar de razoável. Pode-se argumentar que cobra-se por algo porque se está sempre disponível e dedicado mas, se estar disponível e dedicado é o "preço" para se ter um dom, então existe um sistema de troca onde o “dom” só é dado se abrir-se mão de outros aspectos na vida. Aí nâo se trata de uma união por ideais. Enfim, este é um tema delicado.

Nas uniões verdadeiramente baseadas em ideais comuns, as pessoas não são coagidas a agirem de uma forma ou outra, e não perdem a união só por passarem um tempo lidando com suas próprias vidas. São verdadeiramente livres. Dessa forma, as uniões por ideais são éticas no sentido que todos vivem por um princípio de igualdade. Existem funções diferentes entre aqueles que estão unidos, mas não diferenças de status.

Em ambos os tipos de uniões (por troca ou ideais), os objetivos das mesmas são os mais diversos. E quanto ao número dos que participam nelas, também há uma grande variedade. Certos objetivos conquistam mais pessoas, quando estão à favor da cultura dominante, e outros objetivos tendem a criar círculos mais fechados e ocultos, quando vão contra a cultura dominante. O que não quer dizer que os círculos mais abertos sejam melhores (nem piores). Há muito preconceito cultural e este é um dos motivos do termo "ocultismo" ter justamente esse nome. Seria maravilhoso se todas as uniões fossem baseadas em ideais, não em troca. Porém é necessário reconhecer que há uma ampla diversidade de pessoas no mundo, com uma gama diversa de valores, e dependemos direta ou indiretamente do mundo inteiro. Assim não podemos esperar que todas nossas uniões sejam criadas apenas com base em ideais comuns. Seria utópico, pois não teríamos acesso à grande parte da riqueza do mundo. Não há problema real em obtermos dinheiro por nosso próprio esforço, quando representamos valor para o mundo, oferecendo esse valor e acrescentando algo nosso. E podemos acrescentar muito de nosso trabalho ao esoterismo e ao ocultismo, se tivermos esta vocação, e sermos recompensados por isso. Porém, as nossas uniões essenciais (as mais importantes), que são as espirituais e as relacionadas aos nossos laços sentimentais (inclusive os laços de amizade), são mais sólidas se forem uniões por ideais pois, caso não o sejam, se quebrarão quando se consumirem nossas "moedas de troca".

De fato, quanto mais amplas forem nossas uniões por ideais, mais sólida será a vida em si pois tais uniões nos fortalecerão em situações de crise. Na magia, criar uma rede de ressonância ampla e una a a si mesmo, baseada em ideais, é um dos maiores objetivos. Conforme esta rede se amplia, as uniões baseadas em troca tornam-se cada vez mais secundárias e passamos a depender cada vez menos delas.

domingo, 11 de novembro de 2012

A Relação entre a Alma e o Corpo

Uma questão que me intrigava há alguns anos atrás era relacionada à relação entre a alma e o cérebro. Eu me questionava a respeito do porquê de existirem memórias no cérebro, e também existir a capacidade de raciocínio (e pensamento de uma forma mais abrangente) no próprio organismo físico, se o que controla o corpo é a alma. Afinal, se o corpo é apenas um fantoche no qual a alma assume o controle, porque particularmente o cérebro precisa ser tão complexo?

Vou dar um exemplo do que eu quero dizer. Quando eu era pequeno existia uma propaganda de um brinquedo que era um robozinho chamado Arthur. Na propaganda o Arthur pegava objetos, levava de uma pessoa para outra, e tinha um som engraçado. Então eu me apaixonei pelo robozinho. Eu queria ter aquele brinquedo de qualquer jeito. E minha mãe comprou o brinquedo. Normalmente eu não tinha o luxo de ter todos os brinquedos que eu queria, mas aquele brinquedo eu tinha ganhado. Colocamos a bateria e eu fui ver como funcionava. O princípio era simples: era um robô que andava sempre para frente mas, se eu apertasse um botão no controle remoto, ele andava em círculos dando marcha ré, até que eu soltasse o botão e ele ia adiante de novo. Enquanto ele fazia isso, saía um som: “Bi! Bi! Bi! Bi!”. Os bracinhos eram de plástico e não se moviam por si mesmos, nem mesmo eram capazes de segurar algum objeto. Enquanto ele estava ligado, uma luz vermelha acendia e apagava.

Eu demorei pouco tempo para perceber que o robô não era independente, que não tinha inteligência, nem memória alguma dentro de si e que quem detinha o controle dele era eu. Assim é que algumas pessoas acreditam que seja a relação entre o corpo humano e a alma: de controle total por parte da alma. Só que essa relação não faz sentido. Se fosse para a alma ter controle total sobre o corpo, o cérebro não precisaria ter todas as funções que tem. Seria sim um mero receptor, tal como o receptor dos comandos de controle remoto no robozinho Arthur: sem qualquer poder de decisão real, sem qualquer inteligência e sem qualquer individualidade.

Então eu pensei na possibilidade de uma redundância. Ou seja, de uma forma em que o que estivesse no cérebro estivesse também na alma, como uma espécie de cópia. Se algo fosse armazenado no cérebro, seria também armazenado na alma. Só que a redundância também não fazia sentido. Afinal, porque registrar algo duas vezes, quando você pode fazê-lo uma vez só? E porque fazer isso se o corpo eventualmente morre e perde tudo o que estava em si? Permanecia a questão: porque apenas a alma não contém em si toda a cognição do indivíduo, se é ela que detém o controle?

Eu só fui compreender essa relação entre corpo (pois é ali que está o cérebro) e alma quando enfim eu entendi que são duas coisas distintas que se comunicam e interagem ao invés de existir uma relação de controle entre uma e outra. A ideia que me atraiu em especial foi a teoria do universo holográfico, de David Bohm, em que tudo o que ocorre em qualquer lugar, deixa marcas em todo o universo. No domínio da física, a teoria começou com o fenômeno das correlações quânticas (que acontecem à distância, sem uma relação de proximidade envolvendo causa e efeito e, ainda assim, sendo uma comunicação instantânea), levando à compreensão de que não há fenômenos isolados no universo independente de quão distantes estejam dois locais entre si. Não levou muito tempo para David Bohm encontrar implicações filosóficas e metafísicas na sua teoria. No tema deste post, da relação entre corpo e alma, a alma seria esta extensão comunicante que existe em todo o universo. A expressão do corpo se manifestando no universo instantaneamente. A alma teria um foco no corpo, mas não estaria contida nele, podendo alcançar, de fato, tudo o que existe.

A alma seria uma rede de ressonância associada ao corpo de forma que, quando o corpo se desfizesse, a alma permaneceria. Mas permaneceria onde? Espalhada em todo universo físico. Isso é possível se a consciência ser uma característica intrínseca da existência física, de forma que um estado cognitivo possa se expressar à matéria e à energia fisicamente existentes, comunicando-se (veja o post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura para obter mais detalhes sobre este conceito). Assim, pretendo dar continuidade ao post Como o Mundo Espiritual Percebe o Mundo Físico, no sentido de tentar compreender ainda mais a realidade espiritual. A realidade astral seria, portanto, atrelada à realidade física como um todo, da mesma forma que a realidade física é atrelada à realidade astral.

Mas como fica a questão da reencarnação? Eu acredito na reencarnação, porém de uma forma pessoal, não atrelada à qualquer religião. Eu penso que, quando está sendo formado o corpo de um bebê (mesmo sendo ainda um feto), é de fato um novo ser, sem memórias ainda e com sua individualidade. O que se passa então, no caso da reencarnação, é a aproximação e o contato contínuo de uma alma (um ser antigo) com um ser novo, que é o corpo. Conforme esta aproximação e contato se mantêm e, ambos os seres se comunicam (alma e corpo), o corpo passar aprender sobre a alma, harmonizando-se com ela e, da mesma forma a alma aprende com o corpo, harmonizando-se com ele. Dessa forma, todo bebê é um novo ser e, ao mesmo tempo, um ser antigo. É claro que há outros aspectos relacionados à reencarnação, porém desejo abordá-los em outra oportunidade.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Como o Mundo Espiritual Percebe o Mundo Físico

Hoje eu gostaria de iniciar uma reflexão nova, cuja intenção é levar a outras em posts futuros. Talvez em sintonia com o Dia de Finados, eu quero começar a discutir a respeito da natureza dos espíritos. Há pessoas que acreditam que os espíritos podem caminhar entre nós, tal como nós caminhamos, ver a luz e as imagens tal como nós somos capazes de ver, ouvir sons como nós ouvimos e até mesmo sentir a brisa tal como sentimos, como se estivessem permanentemente entre nós, deslocando-se tridimensionalmente em nosso meio sem que os percebêssemos.

O problema desta visão é que, apesar de parecer simples, ela peca em diversos detalhes do que realmente significa ver, ouvir e tocar. No mundo físico, ver é interceptar a luz. Quando vemos algo, a luz é obstruída por nossos olhos, deixando de ser luz, e manifestando sombra (efeito da obstrução da luz). Quando ouvimos algo, só o fazemos porque nossos ouvidos interceptam as vibrações do ar, contendo o ar, e desfazendo o vento. Quando tocamos alguma coisa, existe uma resistência entre nós e aquilo que tocamos, manifestando-se pressão e atrito. Isso quer dizer que, se um espírito visse o mundo da mesma forma que nós vemos, se ele ouvisse da mesma forma que nós ouvimos, e se seu toque fosse da mesma forma que nós tocamos, seria totalmente cego (a luz o atravessaria, sem provocar sombra), surdo (não sendo capaz de conter o ar, não perceberia as ondas sonoras) e incapaz de tocar o mundo (não o poderia fazer atravessando objetos físicos, sem exercer pressão sobre eles).

No entanto, não quero dizer que os espíritos sejam, de fato, cegos, surdos e totalmente alienados do mundo. O que quero dizer é que esta visão sobre a natureza espiritual onde almas permanecem caminhando na Terra, como se tudo continuasse a ser como antes (exceto o fato de não serem percebidos tão facilmente pelos vivos e de poderem atravessar pessoas e objetos), é simples demais para ser real. É necessário que existam outros sentidos que substituam os sentidos físicos e, sendo estes sentidos de um outro tipo, também possuem  qualidades novas e limitações inerentes.

A base ondem se apoiam estes sentidos não-físicos foi explorada no meu post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura. Ali eu coloquei um postulado em que a divindade e a criação não seriam seres separados, e sim um mesmo e único ser que, em um certo momento (que poderíamos considerar como sendo um começo, um princípio, ou mesmo o princípio de um ciclo), era apenas uma essência não-manifesta e que depois tornou-se manifesta: a divindade metamorfoseando-se na criação. A divindade e a criação como um único ser. Porém não estava implícita, naquele post, a relação do mesmo com a natureza dos espíritos.

Portanto, prosseguindo, em toda a existência está o divino. Dessa forma, seja na energia ou na matéria, em cada partícula, em cada átomo, em cada molécula, em cada célula, em cada ser multicelular, está o divino. Isso vale para a existência física, mas também vale para a existência espiritual. Desde já, perdôem-me o termo vago “existência espiritual”, que diz muito pouco sobre o que é a natureza não-física (ou o astral). Mas a proposta aqui é justamente começar a desvelar um pouco este mistério, ainda que muito incompletamente. Enfim, postulando que a divindade está em tudo o que há, seja físico ou espiritual, e também que o divino é consciente e comunicante, encontramos aí os atributos que unem o físico ao espiritual: em tudo há consciência e comunicação (atributos da divindade). A natureza física e espiritual se comunicam.

Estando a divindade em tudo, seus atributos também estão em tudo, incluindo a capacidade de ter consciência e de se comunicar. Seja na matéria, na energia ou no espírito, em qualquer nível (nos objetos, em um grão de areia, na água da chuva), aí está o divino, consciente e comunicante. O que ocorre é que estes atributos se desenvolvem de uma forma mais simples em um grão de areia do que em um ser humano, sendo mais claramente perceptíveis neste último. Ainda assim, estão presentes em tudo o que há.

Para um espírito ver, ele precisa se comunicar com uma consciência no mundo fisico que lhe dê visão. O mesmo se aplica a todos os outros sentidos. O espírito poderia tentar se comunicar com uma árvore para poder senti-la, ou com qualquer outra coisa, tal como um grão de areia, ou as gotas de água da chuva. Mas um espírito humano desencarnado normalmente não sabe se comunicar com uma árvore, ou com os grãos de areia, ou com as gotas de chuva. Portanto ele procura referências mais familiares, abordando outros seres humanos. O espírito então vê com os olhos de outras pessoas, toca com as mãos de outros, sente o paladar pelo paladar de outros, ouve pelos ouvidos de outros. Em muitos casos, o espírito é levado a este contato movido por seus próprios vicios, procurando estimular estes mesmos vícios naquele com quem entra em contato. Mesmo quando não é esta a intenção, podem ocorrer experiências e consequências que não são benígnas para quem é alvo desse contato.

Em teoria deve haver espíritos incapazes de se comunicar com outras pessoas, explorando alguma dificuldade para se comunicarem. Da mesma forma que devem existir espíritos capazes de se comunicar com consciências do meio físico (animais, vegetais e minerais). E, é óbvio, há espíritos não-humanos.

Tomando como pano de fundo esta comunicação, há muitas implicações que podem render muitos posts para refletirmos sobre diversos aspectos a respeito da natureza espiritual. Uma das consequências, por exemplo, é o fato dos espíritos normalmente conseguirem revelar às pessoas somente aquilo que a humanidade de alguma forma já sabe, de acordo com o nível da ciência atingido até então (pois, em geral, percebem o mundo a partir dos sentidos humanos). Os espíritos não trazem consigo revelações cientificas que ainda não tenham sido descobertas pela humanidade, embora em alguns casos consigam obter muita informação científica já conhecida (possivelmente respostas mais complexas e precisas são fornecidas por espíritos que se estruturam e se comunicam entre si, formando uma espécie de rede, ou um círculo). Allan Kardec mesmo, forneceu dados científicos que adequavam-se às observações da época, até então, mas que provaram-se incorretos conforme a ciência evoluiu. Isso foi usado como argumento contrário à mediunidade, porém eu dou-lhe um voto de confiança pelos motivos que descrevi.

Como minha proposta é de estimular a livre reflexão, cabe a cada um pensar nas implicações do que lhes descrevi aqui e também dos possíveis paradoxos que surgirem daí.

sábado, 27 de outubro de 2012

Uma Nova Forma de Buscar a Riqueza

No post anterior, eu coloquei alguns princípios sobre o uso benígno do dinheiro. Uma consequência de reformular o conceito do uso do dinheiro implica também em mudar como definimos a riqueza. Muitas pessoas pensam em riqueza como o extremo acúmulo do dinheiro e, na realidade, este acúmulo gigantesco não deveria existir, afinal o dinheiro deve fluir para cumprir seu papel, e não permanecer acumulado e estagnado. Como conciliar então a ideia da riqueza?

Há quem tenha, como maior sonho, o de se tornar rico. Não me refiro às pessoas que o tentam fazer de forma desonesta e sim às pessoas que se dedicam dia a dia a um negócio pensando nos lucros que podem ser gerados, nos prejuízos que os assombram, ou então nos esforços e sacrifícios que “devem” ser realizados para conseguir uma promoção, seja para ser o novo supervisor, ou o novo gerente, diretor, presidente. Estas pessoas acreditam que a riqueza seja possuir o dinheiro, e é aí que está o erro pois a riqueza está em usufruir, relacionar-se, explorar as possibilidades do mundo e de si mesmo, o que não tem nada a ver com possuir. O simples fato de possuir uma imensa quantidade de dinheiro sem utilizá-lo é um contrasenso pois, possuindo-o dessa forma, não se explora suas possibilidades.

A riqueza está, em primeiro lugar, dentro de si mesmo, na liberdade de ser e pensar, no bom funcionamento do próprio corpo, na expressão do corpo, percebendo seus limites, percebendo o prazer e a dor (eu exploro o tema das sensações no post O Prazer e a Dor). Sim, o prazer e a dor, porque são a base de nosso aprendizado e também é um tipo de riqueza a liberdade de errar, acertar e aprender.

A riqueza está também em se relacionar com as pessoas, ter amizades, revelar seus talentos (uma das formas de se realizar isso é o trabalho), deixar-se servir dos talentos de outras pessoas, ter uma companhia, ter filhos e conviver com os filhos, tornando-se sempre jovem interiormente por estar em contato com a juventude deles. A riqueza está em poder amar os filhos, sejam meninos ou meninas, de uma forma tão pura como jamais seria possível amar outra pessoa, nem mesmo a pessoa que se escolheu como companhia.

A riqueza está em viver cada etapa da vida, sendo plenamente criança, plenamente jovem, plenamente solteiro (ou solteira), plenamente casado (ou casada), ou então optar por outras possibilidades como o claustro religioso, por exemplo. A riqueza também está em ser plenamente idoso, pois ser idoso também é uma etapa da vida e ser verdadeiramente rico implica em viver todas as etapas, extraindo o máximo de experiência de todas elas.

A riqueza está também em ter a liberdade de tratar bem a quem se ama, ou a quem se se sente o legítimo impulso de caridade. A riqueza também está em encontrar conforto no mundo e nas pessoas, em se permitir receber carinho e ser cuidado. A riqueza também é material quando, nos sentindo como crianças, nos espantamos com uso da tecnologia. Em suma, a riqueza diz respeito a relacionar-se, a ser e expressar-se, a ser cada vez mais e a expandir essa expressão no mundo, como se fosse uma grande tela e nós fôssemos os artistas pintando esta tela.

A riqueza diz respeito inclusive ao dinheiro, quando nos relacionamos com ele e o permitimos fluir. Quando se descobre a verdadeira natureza da riqueza, se torna possível perceber que o dinheiro pode fazer parte dela, mas não é a maior parte, pois podemos acessar a riqueza do mundo quando enriquecemos quem somos, definindo nosso papel, e desenvolvemos nossa expressão no mundo. Dessa forma, o uso do dinheiro, em si, se torna menos necessário. Na realidade, assim é a riqueza vivenciada da forma correta. A forma incorreta seria o acúmulo desenfreado do dinheiro para se tentar obter um atalho, tentando evitar a forma natural de realizar-se no mundo.

sábado, 20 de outubro de 2012

O Uso Benígno do Dinheiro

As pessoas têm os mais diversos conceitos em relação ao papel do dinheiro em suas vidas e no mundo. Alguns transformam o dinheiro em um bem maior, na busca última em relação ao qual tudo o mais é secundário. E, justamente por causa desse ponto de vista, outros acreditam que o dinheiro é coisa malígna, que se concentra nas mãos de poucos e escraviza os demais. O fato é que, se o dinheiro fosse de fato malígno, as pessoas não o desejariam, pois ninguém deseja algo que não lhe traga algum tipo de benefício. Muitos costumam criticar outras pessoas por terem objetivos, atitudes e valores voltados ao dinheiro, mas o que sentem realmente é a insatisfação de suas necessidades nesse sentido. Na realidade, não existe razão em culpar o dinheiro, em si, pela forma que as pessoas o usam (o que não é o dinheiro em si). Não faz sentido denegri-lo quando se deseja mais dele para si e para outras pessoas.

O X da questão vem do fato de que as pessoas competem para possuir o dinheiro. E há alguns que fazem isso de forma muito voraz, enquanto outros até que conseguem administrá-lo, e outros então sequer conseguem utilizá-lo para suas necessidades mínimas. É uma competição que não tem resultados equalitários. No fundo, é esta competição que está errada, e não o dinheiro em si. O dinheiro foi inventado para que as trocas de mercadorias e serviços fossem facilitadas. Antes do dinheiro existir, era necessário que se trocasse um bem por outro, ou que se trabalhasse para alguém com o objetivo que esta pessoa lhe entregasse um outro bem ou serviço. Nessa situação, as pessoas precisavam transportar seus bens consigo para poder trocá-los com alguém que os desejasse e necessitavam transportar também os bens que adquiriam em troca.

O fluxo do dinheiro deveria facilitar as trocas de bens e serviços mas não foi isso que aconteceu na prática. As pessoas começaram a acumulá-lo pois isto lhes causava (e causa) a sensação de estarem seguras, pelo menos no que diz respeito aos bens materiais. O ideal é que o dinheiro flua transformando a realidade. Um exemplo de quando o dinheiro é bom, é quando ele se transforma em um negócio que gera empregos e que tem uma função social de algum tipo. Assim, o dinheiro se torna parte do poder que nós temos de dar forma à realidade, sustentando e preservando o que damos valor. O dinheiro é a maneira que possuímos de manter aquela loja em que compramos as roupas que gostamos, ou de manter aquele mercado onde obtemos o que comer e os itens que necessitamos repor em nossos lares, ou instituições de caridade que desejamos manter, etc. Quando pagamos por algo em um estabelecimento, parte deste pagamento irá ser destinado àquelas pessoas que estão trabalhando ali, que o levarão a seus lares e irão utilizá-lo para obter bens e serviços, sustentando também as estruturas que existem na sociedade que lhes fornecem os mesmos.

O uso do dinheiro é benígno principalmente se ele fluir ao invés de ser meramente acumulado (não me refiro é claro às pequenas economias). Quando ele flui, exercemos nosso poder de dar sustentação e forma à realidade. Quando ele é acumulado em excesso, é um potencial estéril e sem uso. O bom uso do dinheiro implica em saber o que desejamos manter no mundo (sejam pessoas, instituições, serviços, lugares ou objetos) e destiná-lo a esse fim. Mas esta é apenas a parte do fluxo que sai de nós. Também é necessário fazer com que venha a nós.

Da mesma forma que o dinheiro é utilizado para mantermos aquilo que damos valor no mundo, o mundo nos mantém com dinheiro quando representamos valor para o mundo. Ou seja, quando temos um papel dentro dele. Na realidade uma pessoa pode ter muitos papéis no mundo, seja na forma de um emprego, seja como empreendedor, ou de diversas outras maneiras. Não há limites para o uso da criatividade na escolha destes papéis, e nem da pluralidade destas escolhas. É claro que não basta fazer escolhas: é necessário desenvolvê-las. E também, quanto mais especial for seu papel no mundo, maior a probabilidade de que o mundo faça com que o dinheiro flua para você.

E finalmente, deve-se evitar negar-se ao dinheiro. Se você repudia algo enfaticamente, será cada vez mais bem sucedido em isolar-se do que nega, de forma que poderá acabar sendo tão bem sucedido nessa negação que se tornará sem aquilo que repudia.