domingo, 25 de novembro de 2012

Como Agir Diante do Bombardeio de Respostas no Mundo

Quantas vezes acontece de se apresentarem, diante de nós, respostas para a vida? E cada uma delas é apresentada como a única resposta certa, invalidando todas as outras. Depois de um tempo, quem nos deu a resposta muda de ideia, como se aquela ideia perfeita não mais valesse, e então nos oferece uma nova, perfeita de novo. Há tantos que se oferecem com respostas perfeitas que nem sabemos por onde começar.

Estamos recebendo um verdadeiro bombardeio de respostas, sem termos sequer formulado uma pergunta. Apenas aproximam-se de nós e dizem “Eu tenho a resposta para sua vida”, e então se dissermos “Você conhece a minha vida?”, simplesmente nos tratam como se não importassem nossas particularidades pois, quaisquer que elas sejam, estão presumindo que a resposta oferecida é perfeita. Caso realmente provemos que nossas particularidades não se ajustam à resposta (o que tornaria a resposta inadequada), nos é dito que não é a resposta que é inadequada, e sim nós que o somos. Nós que não pegamos o X da questão e, portanto, deveríamos ouvir mais e falar menos.

Entramos assim, sem querer, em um jogo de hierarquias onde existem aqueles que têm mais acesso à uma pressuposta verdade e que estão em uma posição natural de líderes, e também existem aqueles que apesar de indígnos de ter acesso a verdades tão maravilhosas, têm a oportunidade (a sorte) de ter a benevolência dos superiores, e que fariam muito bem se deixassem-se guiar submissos, ao invés de ficarem fazendo perguntas irrelevantes que só tiram as pessoas do propósito verdadeiro. É assim que as pessoas se deixam influenciar. É assim que pessoas conscientes se transformam em uma massa humana, muitas vezes sendo comparadas a um grande e imenso gado.

Particularmente, essa massa humana se forma principalmente em situações de opressão. Parece que quantos menos você tem, quanto mais difíceis as condições de realização no mundo, mais suscetíveis as pessoas são de pensarem de uma forma diferente. É nesse momento que as pessoas podem ser manipuladas a acreditarem em algo que, em outras condições, não acreditariam. Há um lado positivo nessa condição, quando chega a abrir nossas mentes e até mesmo nos conduz a uma autêntica experiência mística (veja o post A Bíblia e a Experiência Mística, que explora esta condição), a qual é uma experiência de contato consigo mesmo, encontrando, em si, o divino. Mas também há o lado negativo, que é sermos mais facilmente manipuláveis nestas condições. Como exemplo negativo está o nazismo, no qual o povo alemão deixou-se levar por uma ideologia de ódio e preconceito, justamente porque estavam desacreditados dentro de uma grave crise econômica.

As pessoas, quando tomam atitudes nessas condições, tendem a mudar suas crenças devido ao fenômeno da dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva, em linhas gerais, é nossa tendência a ajustarmos nossos valores e crenças quando fazemos algo que consideramos inaceitável, de forma que passamos a aprovar nossos próprios atos, os quais deixam de ser incompatíveis com nossa nova forma de pensar e acreditar. Quanto mais gritante for a incompatibilidade entre nossas atitudes quando comparadas às nossas crenças e valores, maior é a dissonância cognitiva, e maior o ajuste nestas mesmas crenças para que sejamos capazes de nos sentir melhor, sendo esta uma transformação muito mais profunda do que uma mera mudança de atitude.

Este fenômeno acontece, com grande frequência, no âmbito da religião. A religião, embora tenha uma conotação de religar-se ao divino (o post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura explora esta conotação), não têm este sentido quando representada pela grande maioria das religiões que existem no mundo atual. Na verdade, nestas religiões costumam ocorrer grandes massas de pessoas submissas a hierarquias de controle, ao invés de haver pessoas verdadeiramente conscientes. Estas religiões se valem amplamente da dissonância cognitiva para plantarem dentro das pessoas os seus dogmas, de forma que as pessoas já não precisam mais ser controladas, pois controlam a si mesmas. Mesmo quando a sociedade não vive situações opressivas, as religiões também conseguem exercer influência sobre as pessoas pois, quando um indivíduo destoa da maioria, a ação desta maioria se torna opressiva por ser baseada em julgamentos de valores morais (ou seja: padrões de certo ou errado, pertinentes à cada crença). Como tratam-se de hierarquias de controle, com diversas ramificações, existem diferenças de status entre as pessoas, uma desigualdade entre os indivíduos e, embora haja um grande moralismo inerente à cada religião, pouco existe de ética, uma vez que a ética é fundamentada na igualdade.

As pessoas frequentemente se encontram dentro desse processo sem que o percebam. De fato, compreender esse processo ocorrendo é o passo inicial para nos descondicionarmos dele e começar a agir verdadeiramente com consciência na própria vida. É uma transformação que começa pela análise dos atos, e então das atitudes, e prosseguindo cada vez mais para dentro de cada um, até o questionamento das próprias crenças (o qual pode ser dolorido). Para fornececer alguns insights, há os posts Modelando as Próprias Crenças (o qual pretende ajudar a começar este questionamento), Libertando a Si Mesmo (que tem enfoque na liberdade de pensamento, intrínseca a todo ser humano) e Questionando a Definição de Deus, o qual procura quebrar algumas visões que são aceitas comumente, embora sejam incongruentes entre si e, mesmo assim, não são questionadas (este último post tem um enfoque proposital em quebrar crenças e pode causar uma certa desorientação a princípio).

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Uniões Baseadas em Troca X Uniões Baseadas em Ideais

Há dois tipos de uniões. Uma é a união por motivo de interesse, onde existe a troca de uma coisa por outra. E a outra é a união com base em um ideal comum, ou no prazer comum de estar junto ou de sentir-se como que pertencendo a algo.

No tipo em que impera a troca, a união cessa quando um lado não tem mais o que oferecer, ou seja, quando acaba a "moeda de troca". Essa "moeda de troca" pode ser o dinheiro, mas também pode estar representada por meios mais sutis como, por exemplo, a subserviência, como impera na magia negra quando alguns buscam servir a algo ou alguém que consideram mais forte e poderoso, na esperança que ganhem algumas migalhas e tenham mais "sorte" do que outras pessoas que aparentemente seguem pela senda mais difícil.

Mas este tipo de subserviência não se limita à magia negra exclusivamente pois, na realidade, também pode ser motivada pela inconsciência. É a inconsciência que leva uma pessoa a adotar falsamente uma "postura cristã" (embora não se possa generalizar todos os cristãos) em que afirma amar e adorar Jesus, uma vez que após a morte é essa adoração que lhe garantirá a vida eterna no paraíso, ao invés da danação eterna. Mas acontece que esta pessoa pouco conhece a respeito de quem é Jesus para que possa realmente amá-lo. Mas isso não importa, pois o que precisa ser feito é evitar a danação eterna... Interessante como muitas religiões tiram proveito disso, aproveitando o fato de que as pessoas não são perfeitas quando comparadas a um Jesus mítico (que não é a mesma coisa que o Jesus histórico), e fazendo-as sentirem-se constantemente em débito e, muitas vezes, a forma simples de saldar esse débito é com dinheiro (relação de troca).

Percebe-se que não são questionamentos puramente imorais, nem tampouco puramente morais, que estão envolvidos nas uniões baseadas em troca, pois a troca pode ser tanto movida por um impulso moral (no caso do cristão, por exemplo) ou imoral (no caso da magia negra, por exemplo). O que de fato caracteriza a união baseada na troca é que ela não é sustentada pelo que uma pessoa é, mas pelo que ela tem, ou pela vantagem que ela pode oferecer, normalmente de forma imediata.

Já na união por um ideal, não importa aquilo que você possui, nem aquilo que você pode oferecer no momento, mas aquilo que você ama. Na sua forma mais comum, é o que une as pessoas quando se amam (seja um casal, sejam pais e filhos, etc), e é também o que une as pessoas em uma causa comum (proteger a natureza, combater a miséria, etc). Na magia existem uniões entre o mago e o que está em ressonância a ele. Quando estas uniões se estabelecem por ideais comuns, o que quer que seja feito no mundo para outras pessoas, deve ser feito de graça ou pelo mínimo custo. Pois não é lícito pagar por algo que é a manifestação de um dom gratuíto. É evidente que as pessoas têm despesas, principalmente quando se dedicam desinteressadamente a um propósito e, nesse caso, não se deve confundir o conceito de “pagar por algo” como se fosse a mesma coisa que “ajudar nas despesas”.

No entanto, no esoterismo e ocultismo, há quem exija pagamentos realmente extorsivos, muito além do que se poderia chamar de razoável. Pode-se argumentar que cobra-se por algo porque se está sempre disponível e dedicado mas, se estar disponível e dedicado é o "preço" para se ter um dom, então existe um sistema de troca onde o “dom” só é dado se abrir-se mão de outros aspectos na vida. Aí nâo se trata de uma união por ideais. Enfim, este é um tema delicado.

Nas uniões verdadeiramente baseadas em ideais comuns, as pessoas não são coagidas a agirem de uma forma ou outra, e não perdem a união só por passarem um tempo lidando com suas próprias vidas. São verdadeiramente livres. Dessa forma, as uniões por ideais são éticas no sentido que todos vivem por um princípio de igualdade. Existem funções diferentes entre aqueles que estão unidos, mas não diferenças de status.

Em ambos os tipos de uniões (por troca ou ideais), os objetivos das mesmas são os mais diversos. E quanto ao número dos que participam nelas, também há uma grande variedade. Certos objetivos conquistam mais pessoas, quando estão à favor da cultura dominante, e outros objetivos tendem a criar círculos mais fechados e ocultos, quando vão contra a cultura dominante. O que não quer dizer que os círculos mais abertos sejam melhores (nem piores). Há muito preconceito cultural e este é um dos motivos do termo "ocultismo" ter justamente esse nome. Seria maravilhoso se todas as uniões fossem baseadas em ideais, não em troca. Porém é necessário reconhecer que há uma ampla diversidade de pessoas no mundo, com uma gama diversa de valores, e dependemos direta ou indiretamente do mundo inteiro. Assim não podemos esperar que todas nossas uniões sejam criadas apenas com base em ideais comuns. Seria utópico, pois não teríamos acesso à grande parte da riqueza do mundo. Não há problema real em obtermos dinheiro por nosso próprio esforço, quando representamos valor para o mundo, oferecendo esse valor e acrescentando algo nosso. E podemos acrescentar muito de nosso trabalho ao esoterismo e ao ocultismo, se tivermos esta vocação, e sermos recompensados por isso. Porém, as nossas uniões essenciais (as mais importantes), que são as espirituais e as relacionadas aos nossos laços sentimentais (inclusive os laços de amizade), são mais sólidas se forem uniões por ideais pois, caso não o sejam, se quebrarão quando se consumirem nossas "moedas de troca".

De fato, quanto mais amplas forem nossas uniões por ideais, mais sólida será a vida em si pois tais uniões nos fortalecerão em situações de crise. Na magia, criar uma rede de ressonância ampla e una a a si mesmo, baseada em ideais, é um dos maiores objetivos. Conforme esta rede se amplia, as uniões baseadas em troca tornam-se cada vez mais secundárias e passamos a depender cada vez menos delas.

domingo, 11 de novembro de 2012

A Relação entre a Alma e o Corpo

Uma questão que me intrigava há alguns anos atrás era relacionada à relação entre a alma e o cérebro. Eu me questionava a respeito do porquê de existirem memórias no cérebro, e também existir a capacidade de raciocínio (e pensamento de uma forma mais abrangente) no próprio organismo físico, se o que controla o corpo é a alma. Afinal, se o corpo é apenas um fantoche no qual a alma assume o controle, porque particularmente o cérebro precisa ser tão complexo?

Vou dar um exemplo do que eu quero dizer. Quando eu era pequeno existia uma propaganda de um brinquedo que era um robozinho chamado Arthur. Na propaganda o Arthur pegava objetos, levava de uma pessoa para outra, e tinha um som engraçado. Então eu me apaixonei pelo robozinho. Eu queria ter aquele brinquedo de qualquer jeito. E minha mãe comprou o brinquedo. Normalmente eu não tinha o luxo de ter todos os brinquedos que eu queria, mas aquele brinquedo eu tinha ganhado. Colocamos a bateria e eu fui ver como funcionava. O princípio era simples: era um robô que andava sempre para frente mas, se eu apertasse um botão no controle remoto, ele andava em círculos dando marcha ré, até que eu soltasse o botão e ele ia adiante de novo. Enquanto ele fazia isso, saía um som: “Bi! Bi! Bi! Bi!”. Os bracinhos eram de plástico e não se moviam por si mesmos, nem mesmo eram capazes de segurar algum objeto. Enquanto ele estava ligado, uma luz vermelha acendia e apagava.

Eu demorei pouco tempo para perceber que o robô não era independente, que não tinha inteligência, nem memória alguma dentro de si e que quem detinha o controle dele era eu. Assim é que algumas pessoas acreditam que seja a relação entre o corpo humano e a alma: de controle total por parte da alma. Só que essa relação não faz sentido. Se fosse para a alma ter controle total sobre o corpo, o cérebro não precisaria ter todas as funções que tem. Seria sim um mero receptor, tal como o receptor dos comandos de controle remoto no robozinho Arthur: sem qualquer poder de decisão real, sem qualquer inteligência e sem qualquer individualidade.

Então eu pensei na possibilidade de uma redundância. Ou seja, de uma forma em que o que estivesse no cérebro estivesse também na alma, como uma espécie de cópia. Se algo fosse armazenado no cérebro, seria também armazenado na alma. Só que a redundância também não fazia sentido. Afinal, porque registrar algo duas vezes, quando você pode fazê-lo uma vez só? E porque fazer isso se o corpo eventualmente morre e perde tudo o que estava em si? Permanecia a questão: porque apenas a alma não contém em si toda a cognição do indivíduo, se é ela que detém o controle?

Eu só fui compreender essa relação entre corpo (pois é ali que está o cérebro) e alma quando enfim eu entendi que são duas coisas distintas que se comunicam e interagem ao invés de existir uma relação de controle entre uma e outra. A ideia que me atraiu em especial foi a teoria do universo holográfico, de David Bohm, em que tudo o que ocorre em qualquer lugar, deixa marcas em todo o universo. No domínio da física, a teoria começou com o fenômeno das correlações quânticas (que acontecem à distância, sem uma relação de proximidade envolvendo causa e efeito e, ainda assim, sendo uma comunicação instantânea), levando à compreensão de que não há fenômenos isolados no universo independente de quão distantes estejam dois locais entre si. Não levou muito tempo para David Bohm encontrar implicações filosóficas e metafísicas na sua teoria. No tema deste post, da relação entre corpo e alma, a alma seria esta extensão comunicante que existe em todo o universo. A expressão do corpo se manifestando no universo instantaneamente. A alma teria um foco no corpo, mas não estaria contida nele, podendo alcançar, de fato, tudo o que existe.

A alma seria uma rede de ressonância associada ao corpo de forma que, quando o corpo se desfizesse, a alma permaneceria. Mas permaneceria onde? Espalhada em todo universo físico. Isso é possível se a consciência ser uma característica intrínseca da existência física, de forma que um estado cognitivo possa se expressar à matéria e à energia fisicamente existentes, comunicando-se (veja o post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura para obter mais detalhes sobre este conceito). Assim, pretendo dar continuidade ao post Como o Mundo Espiritual Percebe o Mundo Físico, no sentido de tentar compreender ainda mais a realidade espiritual. A realidade astral seria, portanto, atrelada à realidade física como um todo, da mesma forma que a realidade física é atrelada à realidade astral.

Mas como fica a questão da reencarnação? Eu acredito na reencarnação, porém de uma forma pessoal, não atrelada à qualquer religião. Eu penso que, quando está sendo formado o corpo de um bebê (mesmo sendo ainda um feto), é de fato um novo ser, sem memórias ainda e com sua individualidade. O que se passa então, no caso da reencarnação, é a aproximação e o contato contínuo de uma alma (um ser antigo) com um ser novo, que é o corpo. Conforme esta aproximação e contato se mantêm e, ambos os seres se comunicam (alma e corpo), o corpo passar aprender sobre a alma, harmonizando-se com ela e, da mesma forma a alma aprende com o corpo, harmonizando-se com ele. Dessa forma, todo bebê é um novo ser e, ao mesmo tempo, um ser antigo. É claro que há outros aspectos relacionados à reencarnação, porém desejo abordá-los em outra oportunidade.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Como o Mundo Espiritual Percebe o Mundo Físico

Hoje eu gostaria de iniciar uma reflexão nova, cuja intenção é levar a outras em posts futuros. Talvez em sintonia com o Dia de Finados, eu quero começar a discutir a respeito da natureza dos espíritos. Há pessoas que acreditam que os espíritos podem caminhar entre nós, tal como nós caminhamos, ver a luz e as imagens tal como nós somos capazes de ver, ouvir sons como nós ouvimos e até mesmo sentir a brisa tal como sentimos, como se estivessem permanentemente entre nós, deslocando-se tridimensionalmente em nosso meio sem que os percebêssemos.

O problema desta visão é que, apesar de parecer simples, ela peca em diversos detalhes do que realmente significa ver, ouvir e tocar. No mundo físico, ver é interceptar a luz. Quando vemos algo, a luz é obstruída por nossos olhos, deixando de ser luz, e manifestando sombra (efeito da obstrução da luz). Quando ouvimos algo, só o fazemos porque nossos ouvidos interceptam as vibrações do ar, contendo o ar, e desfazendo o vento. Quando tocamos alguma coisa, existe uma resistência entre nós e aquilo que tocamos, manifestando-se pressão e atrito. Isso quer dizer que, se um espírito visse o mundo da mesma forma que nós vemos, se ele ouvisse da mesma forma que nós ouvimos, e se seu toque fosse da mesma forma que nós tocamos, seria totalmente cego (a luz o atravessaria, sem provocar sombra), surdo (não sendo capaz de conter o ar, não perceberia as ondas sonoras) e incapaz de tocar o mundo (não o poderia fazer atravessando objetos físicos, sem exercer pressão sobre eles).

No entanto, não quero dizer que os espíritos sejam, de fato, cegos, surdos e totalmente alienados do mundo. O que quero dizer é que esta visão sobre a natureza espiritual onde almas permanecem caminhando na Terra, como se tudo continuasse a ser como antes (exceto o fato de não serem percebidos tão facilmente pelos vivos e de poderem atravessar pessoas e objetos), é simples demais para ser real. É necessário que existam outros sentidos que substituam os sentidos físicos e, sendo estes sentidos de um outro tipo, também possuem  qualidades novas e limitações inerentes.

A base ondem se apoiam estes sentidos não-físicos foi explorada no meu post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura. Ali eu coloquei um postulado em que a divindade e a criação não seriam seres separados, e sim um mesmo e único ser que, em um certo momento (que poderíamos considerar como sendo um começo, um princípio, ou mesmo o princípio de um ciclo), era apenas uma essência não-manifesta e que depois tornou-se manifesta: a divindade metamorfoseando-se na criação. A divindade e a criação como um único ser. Porém não estava implícita, naquele post, a relação do mesmo com a natureza dos espíritos.

Portanto, prosseguindo, em toda a existência está o divino. Dessa forma, seja na energia ou na matéria, em cada partícula, em cada átomo, em cada molécula, em cada célula, em cada ser multicelular, está o divino. Isso vale para a existência física, mas também vale para a existência espiritual. Desde já, perdôem-me o termo vago “existência espiritual”, que diz muito pouco sobre o que é a natureza não-física (ou o astral). Mas a proposta aqui é justamente começar a desvelar um pouco este mistério, ainda que muito incompletamente. Enfim, postulando que a divindade está em tudo o que há, seja físico ou espiritual, e também que o divino é consciente e comunicante, encontramos aí os atributos que unem o físico ao espiritual: em tudo há consciência e comunicação (atributos da divindade). A natureza física e espiritual se comunicam.

Estando a divindade em tudo, seus atributos também estão em tudo, incluindo a capacidade de ter consciência e de se comunicar. Seja na matéria, na energia ou no espírito, em qualquer nível (nos objetos, em um grão de areia, na água da chuva), aí está o divino, consciente e comunicante. O que ocorre é que estes atributos se desenvolvem de uma forma mais simples em um grão de areia do que em um ser humano, sendo mais claramente perceptíveis neste último. Ainda assim, estão presentes em tudo o que há.

Para um espírito ver, ele precisa se comunicar com uma consciência no mundo fisico que lhe dê visão. O mesmo se aplica a todos os outros sentidos. O espírito poderia tentar se comunicar com uma árvore para poder senti-la, ou com qualquer outra coisa, tal como um grão de areia, ou as gotas de água da chuva. Mas um espírito humano desencarnado normalmente não sabe se comunicar com uma árvore, ou com os grãos de areia, ou com as gotas de chuva. Portanto ele procura referências mais familiares, abordando outros seres humanos. O espírito então vê com os olhos de outras pessoas, toca com as mãos de outros, sente o paladar pelo paladar de outros, ouve pelos ouvidos de outros. Em muitos casos, o espírito é levado a este contato movido por seus próprios vicios, procurando estimular estes mesmos vícios naquele com quem entra em contato. Mesmo quando não é esta a intenção, podem ocorrer experiências e consequências que não são benígnas para quem é alvo desse contato.

Em teoria deve haver espíritos incapazes de se comunicar com outras pessoas, explorando alguma dificuldade para se comunicarem. Da mesma forma que devem existir espíritos capazes de se comunicar com consciências do meio físico (animais, vegetais e minerais). E, é óbvio, há espíritos não-humanos.

Tomando como pano de fundo esta comunicação, há muitas implicações que podem render muitos posts para refletirmos sobre diversos aspectos a respeito da natureza espiritual. Uma das consequências, por exemplo, é o fato dos espíritos normalmente conseguirem revelar às pessoas somente aquilo que a humanidade de alguma forma já sabe, de acordo com o nível da ciência atingido até então (pois, em geral, percebem o mundo a partir dos sentidos humanos). Os espíritos não trazem consigo revelações cientificas que ainda não tenham sido descobertas pela humanidade, embora em alguns casos consigam obter muita informação científica já conhecida (possivelmente respostas mais complexas e precisas são fornecidas por espíritos que se estruturam e se comunicam entre si, formando uma espécie de rede, ou um círculo). Allan Kardec mesmo, forneceu dados científicos que adequavam-se às observações da época, até então, mas que provaram-se incorretos conforme a ciência evoluiu. Isso foi usado como argumento contrário à mediunidade, porém eu dou-lhe um voto de confiança pelos motivos que descrevi.

Como minha proposta é de estimular a livre reflexão, cabe a cada um pensar nas implicações do que lhes descrevi aqui e também dos possíveis paradoxos que surgirem daí.