terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um Rito para o Começo de Ano

Ofereço a vocês um rito específico para o começo deste ano de 2014. Eu o publiquei inicialmente na comunidade Repensando a Magia e o Ocultismo. Clique aqui para ver o post original. 

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O ano de 2014 está chegando e no dia 1 de janeiro haverá Lua Nova, começando já de manhã.
É um fenômeno um tanto incomum, a Lua Nova (que é um começo de ciclo que dura um mês) alinhar-se tão exatamente com o primeiro dia do ano (que é o começo do ciclo do ano). Pelo que sei, a última vez que aconteceu este fenômeno foi de 2005 para 2006.

São duas egrégoras agindo em conjunto. Um bom momento para realizar uma operação mágica. No entanto, como trata-se da Lua, eu não considero interessante realizar um rito de dia (mesmo com a Lua Nova começando de manhã). Este horário não seria respeitoso pois não tem a ver com a noite, que é associada ao simbolismo da Lua. Mas é claro que não se conseguirá ver a Lua à noite, afinal é Lua Nova. Melhor então esperar até tarde da noite para começar.

O objetivo de um rito neste momento seria uma conexão com o sagrado feminino (relacionado à Lua), apresentando-se com sinceridade e humildade (de joelhos pois trata-se do sagrado, em um ambiente sem interferência, e preferencialmente com vista ao ar livre se possível), colocando ali todas as dificuldades, as buscas pessoais, e também aquilo que se ama mais (sempre há algo que amamos e que vale qualquer sacrifício, não é?). Tudo isso representa um nó a ser desatado e às vezes não sabemos como fazer isso. Deve-se pedir neste rito também que este nó seja desfeito, seja qual for e, finalmente, deve-se agradecer. Note que o formalismo do rito não é importante, e sim sua essência.

A magia, quando envolve a Lua, pode produzir resultados iniciais muito rápidos. Isso porque o ciclo da Lua é veloz, levando um mês aproximadamente para se completar. Muitas vezes, já na primeira semana, os indícios iniciais começam a surgir, vindo a se confirmar no decorrer do ciclo lunar.

Só que a Lua Nova é um momento de conjunção da Lua com o Sol, e estamos falando justamente do início do período de um ano, onde o Sol será totalmente circulado pela Terra. Então podemos esperar também resultados neste período. Isso sem mencionar o poder das intenções de tantas pessoas para o novo ano ocorrendo simultaneamente.

Alguns de vocês já devem estar cultuando a alguma divindade especifica feminina que tem relação com a Lua Nova. Se for o caso, não percam o momento.

Caso desejem realizar o rito e obtenham resultados, sintam-se livres para compartilhá-los se assim tiverem intenção.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Edgar, o Dentista

O ano de 2014 está chegando e resolvi preparar um presente para vocês. É a crônica “Edgar, o Dentista” do meu blog Incongruências Urbanas.
Desejo a todos vocês um feliz ano novo, com saúde, felicidade e prosperidade!

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Eu era ainda criança quando vi Edgar pela primeira vez. Foi no dia que meu pai me levou ao seu consultório. Recordo-me da primeira impressão que tive: um homem alto, de sobrancelhas grossas, cabelos negros e curtos, pele clara e os olhos característicos dos japoneses e de outros asiáticos. Estava sorridente (quase sempre Edgar é sorridente). Porém eu era pequeno e assustei-me. Não sei porquê algumas pessoas transmitem tranquilidade às crianças e outras não o fazem, não importa quão simpáticas sejam.
Seus pais deram-lhe um nome japonês: Yoshiro. No entanto, nunca sentiu-se confortável com o nome com que fora registrado. Por isso escolheu para si mesmo chamar-se de Edgar, e é assim que gosta de ser conhecido.

No consultório, um fato que chamou-me a atenção já de início foram seus diplomas e certificados. Eram muitos, todos distribuídos pela parede e protegidos por uma superfície de vidro. Aquela seria a primeira de muitas vezes em que eu iria tratar-me com ele. Enquanto aguardava a vez, entre uma revista e outra, eu os admirava. Acredito que nunca deixei de olhá-los, mesmo que de relance, sempre que voltei ali. Cursos, especializações das mais diversas, em muitos lugares e muitas épocas. Eu sempre perguntei a mim mesmo como podia ser possível alguém dominar tantas técnicas e especialidades. É algo que até contradiz o próprio conceito de especialidade. Afinal, se você tem diversas delas, você pode ser considerado um especialista?

Se eu não conhecesse Edgar, eu poderia dizer que todos aqueles documentos eram apenas conversa fiada, e que não era possível alguém conhecer tanto sobre seu ofício. Mas eu o conheço. Edgar é, de fato, um odontologista capaz de fazer qualquer coisa. Do mais banal ao mais complexo. Seja uma simples limpeza, seja um canal, uma obturação, uma extração, uma prótese, etc. Nada lhe causa insegurança.

Na realidade, há uma ressalva: extrações deixam-no impaciente. Certa vez eu perguntei a ele se seria indicada uma extração em um dos meus dentes do siso. Respondeu-me de uma forma, no mínimo, inusitada:
- Rogério, eu posso até extrair esse seu dente, mas vou cobrar mais do que o faria para um canal...

Espantei-me. Era uma forma de cobrar que me parecia bizarramente invertida. Repliquei:
- Nossa! Porque isso? A mim parece não fazer sentido algum.
Ele prosseguiu:
- Na semana passada eu tratei uma doutora, professora universitária. Você não imagina quanto trabalho eu tive para extrair um dente dela. Por isso eu digo: vamos cuidar desse dente ao invés de extraí-lo. Isso vai lhe sair muito mais barato.
E assim o fizemos.

Certa vez eu precisei tratar um canal.  Edgar propôs uma alternativa:
- Bom, este é um caso de canal. Eu posso tratá-lo da forma que se faz usualmente, porém existe uma outra opção.
- Outra opção?
- Sim. É algo que não se faz mais, mas que eu acredito que vai dar certo. Eu posso, como diria... mumificar esse canal. Ele simplesmente vai secar e perder a função.

Edgar e suas experiências. Concordei em deixá-lo realizar o procedimento. Muitos anos se passaram então e eu havia viajado. Mastiguei algo que acabou por quebrar aquele dente. Como iria passar muitos dias ali, resolvi ir a uma clínica odontológica. Após analisar uma radiografia de meu dente, um dos profissionais resolveu pedir ajuda ao vizinho, do outro consultório:
- Não sei como interpretar esta radiografia. Veja só (mostrando a radiografia). Não foi feito o canal, mas aparentemente não há o nervo.
O colega chamou um outro que, enfim, reconheceu a técnica que havia sido utilizada. Voltou-se para mim:
- Esta técnica é bem pouco usual. Não está errada, mas não se costuma realizá-la. Não foi feito o tratamento do canal mas o nervo foi morto. Você estava ciente disso?
- Sim. Eu estava - confirmei.
Esta, na realidade, não foi a única vez em que precisei explicar o tratamento deste meu dente.

Pelo que soube, não demorou muito para que Edgar se tornasse o dentista mais requisitado da Vila Suíça. Digo dentista ao invés de odontologista porque é assim que o povo se habituou a chamá-lo, e eu me incluo no povo. Sua fama cresceu, fosse por todas suas especialidades, fosse pelos tratamentos com valor realmente em conta que sempre praticou, e fosse principalmente pelo prazer com que lida com sua clientela, sempre contando histórias. Certa vez contou-me uma delas:
- Vou contar-lhe algo sobre o Japão.
- Fique à vontade - balbuciei com um lado da boca todo anestesiado.
- Aqui no Brasil é muito perigoso para as crianças atravessarem as ruas sozinhas. Concorda?

Seria certamente mais fácil para mim se eu apenas precisasse ouvi-lo, porém ele frequentemente solicitava que eu interagisse. Eu nada disse e ele repetiu:
- Concorda?

Não havia o que fazer. Eu precisava dar-lhe um retorno:
- Sim. Concordo.
Ele continuou:
- Pois então, no Japão há bandeirinhas para atravessar as ruas. A última criança a atravessar leva a bandeirinha consigo para sinalizar aos condutores dos veículos de que não há mais crianças a passar. Você sabia disso?
- Não. Não sabia - respondi admirado.
- Um país com educação no trânsito tem de dar segurança aos pedestres, e principalmente às crianças - concluiu.

Noutro dia, quando fui ao trabalho, conversei com Sandra, uma colega também de origem japonesa, e contei-lhe o que Edgar tinha dito a mim. No seu ponto de vista, aquela era uma história hilariante. Uma invenção da mente de meu dentista. A imagem pessoal que eu tinha de Edgar feriu-se com aquele comentário.

Dei atenção a algumas pessoas que o julgavam de forma depreciativa apenas por sua simplicidade aparente. Pessoas que consideravam "o livro pela capa", como se costuma dizer. Procurei outros profissionais e descobri que se dividiam em especialidades, cada um enxergando apenas parte do que deveria ser feito. Tratei e retratei meus dentes com estes. Quando comparados a Edgar sempre aparentaram saber menos e os resultados dos tratamentos eram menos permanentes do que quando Edgar os conduzia.

Hoje uma obturação caiu e pensei em Edgar, após muitos anos sem vê-lo. Lembrei-me da história da bandeirinha e procurei alguns termos no Google: bandeirinha, atravessar, rua, Japão. Escrevi tudo junto, sem vírgulas e sem aspas. Encontrei já de cara: "Japão é assim: BANDEIRINHA PARA ATRAVESSAR A RUA". Fiquei surpreso com o achado. Edgar estava certo desde o início. Procuro seu telefone na lista e o encontro. Teclo os dígitos, identifico-me e ouço sua voz em resposta:
- Oi Rogério! Há quanto tempo! Eu nunca mais o vi por aqui.
- Edgar, eu gostaria de tratar um dente. Eu posso ir aí hoje?
- Mas é claro. Pode vir sim. A tarde está bem folgada.

Chego então à Vila Suíça e subo as mesmas escadas, ansioso para revê-lo e para desejar-lhe um Feliz Ano Novo, com votos sinceros de longos anos de vida e muita saúde. É sempre bom quando se reencontra um velho amigo.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Porque Escolhi o Caminho da Mão Esquerda

As pessoas possuem os mais diversos critérios para definir o que consideram magia branca e magia negra. Muitos relacionam a via sinistra (a do caminho da mão esquerda) à magia negra, enquanto associam o caminho da mão direita à magia branca. Pessoalmente eu não concordo com este tipo de associação e quero acrescentar aqui minha definição pessoal sobre o que considero ser o real divisor de águas entre estes dois caminhos (da mão esquerda e da mão direita), o qual acredito que seja a experiência com Choronzon.

Alguns o consideram um demônio, enquanto outros acreditam que seja meramente uma espécie de dinâmica (um efeito sem personalidade). Na realidade eu já comentei muito sobre minhas próprias experiências com Choronzon em posts anteriores (veja O Início de uma Experiência Assustadora com meu Inconsciente, Um Tempo com Choronzon, A Lição que se Aprende com Choronzon e Entendendo o Papel de Choronzon), mas é óbvio que ainda não esgotei o que gostaria de comentar sobre este tema, como vou demonstrar agora.

Um certo tempo após o encontro com meu Santo Anjo Guardião (veja o post Falando de Minha Própria Iniciação na Magia), eu tive uma experiência de confronto com este ser. O mais interessante nesta experiência é que eu pude ver refletido meu ego, com todas suas ilusões sedutoramente ampliadas. Ao perceber minhas ilusões, eu pude lidar com elas objetivamente pois estas haviam perdido grande parte do poder de manipular-me.

Percebi que o ego fazia-me negar infinitas possibilidades apenas para afirmar um “ideal” que não me satisfazia, que traduzia-se em crenças que me foram instiladas desde minha infância. Eu considerava-me inferior ao comparar-me com os padrões assumidos nestas crenças. Considerava-me fraco, incompleto, cheio de necessidades e com desejos questionáveis. Considerava-me um fracasso por não ser quem eu acreditava que deveria ser. O encontro com Choronzon me fez perceber a insanidade a que eu me impunha ao tentar medir-me por padrões praticamente inatingíveis.

Questionei então se era eu que de fato estava errado por causa de minhas necessidades (às quais eu tentava ignorar e jamais conseguia) ou se o erro estava em ter assumido um sistema de crenças e valores que não inventei, através de uma fé a qual eu não questionava. Foi aí que resolvi abrir-me para a amplitude que existe dentro do inconsciente. Há infinitas possibilidades ali. O que me assustou, a princípio, foi como esta diversidade mostrou-se escura, um tanto demoníaca. Afinal era assim que eu havia me acostumado a julgar esta diversidade, e é assim que o mundo também costuma julgá-la.

Nenhum ser dos que se consideram iluminados apresentou-se ali. Estes seguem regras estritas e possuem caminhos rígidos. Não estendem a mão para quem julgam não possuir o mérito de conhecê-los. Por outro lado, aqueles que se apresentavam receberam-me com cordialidade e passei a interagir com eles, principalmente nos sonhos. Foi assim que optei pela via sinistra, pelo caminho da mão esquerda, o mergulho dentro do inconsciente, e jamais me arrependi. Não encontrei ali o ódio, e sim o profundo amor pela diversidade.

Hoje em dia afirmo conscientemente que amo profundamente aquilo que muitos temem, não por vantagens que isso poderia trazer, pois estas vantagens são ilusórias. O mundo vem instilando há muito tempo o conceito de que a diversidade é malígna e que somente uma opção é benígna. Muitos acreditam nisso e, inspirados por má índole, buscam a via sinistra. São escolhas inconscientes que sempre levam à desilusão.

No meu caso, a escolha pareceu-me simples: era permanecer em um caminho cada vez mais estéril por isolar-se de tudo o mais (o que antes eu julgava ser o caminho certo), ou permitir que toda uma multiplicidade de influências viesse a mim. A opção lógica era abrir-me à diversidade. Eu desconhecia então os conceitos de caminho da mão esquerda (em que acontece a abertura ao inconsciente) e caminho da mão direita (que isola de si grande parte do inconsciente, negando-a). Para mim a escolha parecia ser óbvia. Levei algum tempo para compreender que o caminho que havia escolhido não era o mesmo trilhado por muitos outros.

Ultimamente eu tenho percebido que o caminho da mão esquerda está se tornando mais reconhecido pelas qualidades que tem, e não pelos desejos mesquinhos dos tolos. Isso é bom porque é um caminho para a vida, porque a vida é ampla e múltipla. Precisamos comungar com a vida e não subjugá-la.