sábado, 6 de setembro de 2014

Quando Uma Experiência Coletiva Não é Real

No post anterior (Quando a Experiência Física Não é Tão Física), introduzi a ideia de que nem sempre as coisas são o que aparentam ser. Há situações em que o que parece ser fantástico pode ser explicado de forma mais simples e menos misteriosa.

Surpreendi-me com algumas reações àquele post. Algumas pessoas queriam confirmar se eu realmente não acreditava naquilo em que elas fundamentavam suas crenças, e eu precisei explicar que é preciso dar atenção a todo tipo de evidência, seja a de que algo existe como a de que algo não existe. Sem esta ressalva, estamos apenas nos deixando manipular, ou pior: estamos iludindo a nós mesmos.

Comecei essa abordagem explorando um tipo de ilusão individual, porém há evidências de que as pessoas se permitem iludir também coletivamente. É sob esta perspectiva que pretendo enveredar-me agora, mais precisamente no tema da ufologia, através de um dos relatos mais conhecidos no Brasil: a Operação Prato (confira na reportagem da revista Isto É).

A Operação Prato diz respeito a fatos que ocorreram há 35 anos atrás, documentados em milhares de páginas, inicialmente confidenciais mas já disponíveis para apreciação pública. Segundo esta documentação, foram também realizadas fotografias e filmagens (embora não tenham sido disponibilizadas). O propósito da investigação era verificar denúncias do chupachupa (faz lembrar o chupa-cabra, com relatos iniciados em 1995, não faz?), mas acabou levando a avistamentos de OVNIs por centenas pessoas, entre militares e civis. Uma multidão afirmou que foi atingida por luzes que, entre outros efeitos, feriam-lhes, levando-lhes o sangue e causando-lhes queimaduras.

Curiosamente, por mais extensos e traumáticos que tenham sido os ferimentos, gradualmente todas suas evidências desapareceram. Não sobrou um traço sequer das feridas e queimaduras (esta é uma informação obtida pelos depoimentos, e não pela documentação em posse do governo brasileiro). Supõe-se, por aqueles que viveram a experiência, que a natureza alienígena dos traumas seja a explicação para este fato. Afinal, os alienígenas são tão evoluídos que tudo podem, inclusive reverter danos por eles mesmos causados, mesmo que não saibamos como e nem porquê.

Proponho considerar a possibilidade desta não ter sido uma experiência física real, e sim uma experiência mental. A questão é: pode uma percepção coletiva ser ilusória? As consciências de indivíduos são capazes de se conectar de tal modo a ponto de criar alucinações comuns e consistentes por um longo período de tempo?

De acordo com a documentação do exército brasileiro, foram produzidos filmes e gravações que comprovam os eventos reportados. Sem dúvida os soldados que participaram da operação realmente acreditavam ter produzido tais evidências. No entanto, o que será que as gravações realmente continham? Seria a prova incontestável de que os alienígenas estão entre nós? Ou seria a perturbadora constatação de que nada do que estava reportado por escrito podia ser verificado?

Carl Sagan (1934-1996), ao citar Fred H. Frankel, especulou a respeito de abduções alienígenas (tema que pode ser adaptado para a situação específica da Operação Prato):

"Se os raptos por alienígenas fazem parte de um quadro mais amplo, qual é na realidade esse quadro mais amplo? Receio me precipitar em terreno que os anjos têm medo de pisar; mas todos os fatores que você delineia preenchem o que foi descrito na virada do século como histeria. O termo, lamentavelmente, passou a ser usado de forma tão ilimitada que nossos contemporâneos, em sua duvidosa sabedoria [...] não só o abandonaram, como perderam de vista os fenômenos que ele representava: altos níveis de sugestionabilidade, capacidade imaginativa, sensibilidade a dicas e expectativas, e o elemento de contágio [...]. Um grande número de clínicos praticantes parece reconhecer muito pouco de tudo isso."
O Mundo Assombrado pelos Demônios, página 145, Editora Companhia de Bolso

Ponderando não somente pelos conceitos das ciências exatas, mas também por um leque mais amplo de possibilidades dentro do ocultismo, podemos encontrar outras respostas. Sabemos, por exemplo, que há uma realidade arquetípica da qual sentimos efeitos indiretos, tal como a alegoria da Caverna de Platão onde as verdadeiras causas da realidade não nos são visíveis, pois metaforicamente apenas percebemos sombras projetadas à parede, ignorando os objetos relacionados às mesmas. Outra explicação possível seria que as interações com alienígenas teriam ocorrido no astral ao invés do plano físico.

Estas interpretações (e muitas outras, se as procurarmos) são sutis, para as quais o exército brasileiro certamente não está preparado para lidar. Afinal é uma instituição que se sustenta no pressuposto de forças armadas que lidam com situações objetivas e concretas, e não com um plano mais sutil da realidade. É possível, aliás, que este seja um dos motivos dos governos serem tão relutantes ao lidarem com o tema dos objetos voadores não identificados.

Há muitos temas relacionados à ufologia que podem estar ligados às alucinações individuais e coletivas (definindo-se aqui alucinação não como algo patológico, mas como a percepção ilusoriamente física de algo que não é físico). Algumas pessoas afirmam possuir implantes e há quem realmente tenha tentado removê-los cirurgicamente, constatando que estes desapareceram então de forma misteriosa. Justifica-se normalmente este desaparecimento como uma característica da tecnologia extraterrestre que ainda não conseguimos explicar.

Mencionando ainda Carl Sagan (de memória, na obra O Mundo Assombrado Pelos Demônios), o fato é que nunca alguém arrancou um dente de um alienígena, ou pedaço de unha, escama ou o que quer que fosse que tivesse em si DNA não-terrestre ou qualquer outra prova inconfundível (e incontestável) de que os alienígenas estão entre nós. Ele questiona o fato de nenhum país ter apresentado provas neste sentido. Será que há um acordo comum entre todas as nações da Terra? Com tantas divisões políticas e guerras por motivos diversos (por exemplo, religiosos), será possível que um acordo de proporções tão amplas poderia ser estabelecido?

Cabe ainda uma reflexão: se somos seduzidos tão facilmente pelo que nos aparenta ser fantástico, será que há um sedutor? Será que nos desviamos da busca racional de respostas apenas por acaso, ou pode existir uma consciência e intenção que nos mantém assim? Os fenômenos que abordei aqui são de uma escala muito ampla, talvez ampla demais para ser mera coincidência. É possível que sejam orquestrados por uma esfera de consciência maior que a nossa? Podemos estar sob controle? Se for o caso, porque?

Se for verdade, talvez este seja um bom sinal. Quem nos privaria enfática e insistentemente de expandir os limites de nossas consciências? Que guardião nos impediria utilizando nossas próprias ilusões contra nós mesmos? Isso me faz lembrar da natureza de Choronzon (confira meus posts a este respeito). Choronzon se faz manifestar quando o indivíduo tenta atravessar os limites de seu próprio ego, para que não profane o que está além de si mesmo. A "arma" de Choronzon é revelar exatamente o que se deseja ver, até que a pessoa perceba suas próprias ilusões e as transcenda. Talvez estejamos vivendo este fenômeno em escala global e precisemos enfrentar nossas ilusões primeiramente, antes de darmos o passo definitivo. Talvez este momento seja breve, ou talvez ainda leve séculos ou milênios...

Então, o que quero dizer com tudo isso? Não existem alienígenas? Eu jamais afirmaria isso. Afinal a Terra é apenas um planeta dentro de uma infinidade de galáxias. Não sabemos ainda como dobrar o espaço-tempo e viajar mais rápido do que a luz, porém alguma espécie alienígena pode ter descoberto como fazê-lo, se for possível. Porque não? O que não temos são evidências definitivas de que tenham chegado fisicamente até aqui, em nosso planeta.