Esoterismo (com s) ou exoterismo (com x)? o que diferencia estas palavras? Será apenas uma questão de grafia?
O exoterismo
diz respeito a adquirir conhecimento através de meios externos, ao
invés de explorar a via interior (a via intuitiva). O conhecimento é exotérico
quando se adota uma postura dogmática para obtê-lo, onde não se admite o
questionamento, ou quando se recebe algum tipo de informação de uma
fonte externa (seja através de espíritos, de representantes oficiais de
alguma religião ou escola, ou de livros em que se leu algo emitido por
uma fonte privilegiada). No exoterismo
preponderam palavras. A informação é dita, detalhadamente explicada,
mas frequentemente não é questionada. Há também símbolos não-verbais,
porém para cada símbolo há uma extensa literatura explicando-o, de forma
que, para que haja uma interpretação “correta”, é necessário
inteirar-se da literatura descritiva que o acompanha.
Já o esoterismo é o oposto do exoterismo. Esoterismo
é aprender através da via interior, ao invés de meios exteriores. É um
aprendizado que está à disposição de qualquer um porque não depende de
meios e condições externas. É explorar o universo dentro de si mesmo,
com os próprios recursos, por assim dizer. No esoterismo
preponderam símbolos que precisam ser contemplados e interiorizados. É o
caso dos mantras (sons), yantras (símbolos visuais, relacionados ao
tantrismo) e mandalas (símbolos visuais circulares). Não que haja algum
conteúdo a ser apreendido destes simbolos, mas eles costumam provocar
estímulos naqueles que os experimentam e, se as pessoas mantém este
contato e permanecem atentas aos estímulos percebidos, a mente se
enriquece a partir de seus próprios recursos, de sua própria linguagem,
que não é feita necessariamente por palavras.
A diferença se trata então de duas vias: a interior (esotérica) e a exterior (exotérica).
Utilizando um exemplo prático, quando alguém lê o tarot, está
utilizando a via interior ou a via exterior? Depende. Um arcano (no caso
representado numa carta, ou lâmina do tarot) pode ser interpretado
tanto pela via interior, quando quem o interpreta usa a via intuitiva,
ou pela via exterior, quando a interpretação reflete apenas a erudição
ao invés de um estímulo autenticamente pessoal. Assim, percebe-se que um
símbolo não é necessariamente esotérico, ou exotérico em si próprio, pois pode ser utilizado em ambos os contextos.
Na
atualidade, mesmo nos meios ditos esotéricos (que deveriam buscar a via
interior), há muitas pessoas que utilizam a via exterior de
aprendizado, ao invés da via interior. Basta lembrar do “fim do mundo”
(que acreditava-se de acordo com o calendário maia), e refletir sobre
como isto perturbou de fato o mundo (embora o mundo não tenha acabado).
Nós estamos sempre nos deixando desviar a atenção de nós mesmos para
simplesmente nos sentirmos indefesos frente a “fatos” revelados do
“alto”, sobre os quais não temos poder algum. Motivados pela
insegurança, buscamos informação, que nos vêm muitas vezes pelo Google,
por redes sociais, ou por e-mail. Buscamos palavras, meios absolutamente
exotéricos, dos quais não participamos nem sequer minimamente para ajudar a produzi-las.
Cabe
lembrar que a magia explora o mundo interior de cada um, o qual é
ligado ao mundo exterior, permitindo que se possa agir como causa, ao
invés de ser mero efeito. Imaginem o que seria do mundo se houvessem
mais magos. Certamente seria um mundo mais difícil de ser controlado.
Porém, o desenvolvimento na magia ocorre na medida em que se transcende o
próprio ego, unindo-se ao universo de uma forma cada vez maior e, por
consequência, mais harmoniosa. Dessa forma, é correto afirmar que o
objetivo último de um mago implica em atingir esta união e harmonia (por
extensão, o objetivo último da magia e dos magos). A via interior é
verdadeiramente libertadora. Como todos nós possuímos potencial para
explorar esta via e, como existem muitas estruturas de controle neste
mundo, pode ser conveniente para poucos que a grande maioria não saiba o
potencial que pode desenvolver. No entanto, para desenvolver este
potencial, é preciso começar a fazê-lo e não deixar-se desviar neste
processo.
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