Se
você pudesse escolher entre oferecer uma pergunta ou uma resposta ao
mundo, com qual das opções gostaria de contribuir? Muitos responderiam
que preferem oferecer respostas às perguntas do mundo, e outros tantos
responderiam que preferem oferecer perguntas pois há respostas demais e
perguntas de menos. O que muito poucos perceberiam é que eles mesmos são
as respostas para as próprias perguntas. O fato é que cada um de nós vê
o mundo sob uma perspectiva única porque muitos aspectos da vida de
cada pessoa são únicos.
E
que aspectos são esses? O emprego ou o negócio que lhe serve de fonte
de renda, por exemplo. Mas você pode estar desempregado, ou optar por
não trabalhar seja porque decidiu cuidar de sua casa enquanto o cônjuje
trabalha, ou porque optou por não trabalhar com remuneração porque é uma
freira, ou um padre. Você pode estar com suas contas em dia, assim como
pode estar endividado. Pode ser solteiro, pode estar casado, ou ter
filhos. Pode ser uma mãe solteira. Pode ser um adolecente que ainda não
teve seu primeiro relacionamento, pode ter se casado, pode estar vivendo
uma crise, pode ser viúvo. Pode estar bem de saúde, ou não estar. Estes
são alguns poucos aspectos superficiais e há certamente uma infinidade
de outros que tornam a sua perspectiva única e que tornam a resposta que
você precisa para sua vida extremamente específica.
Compreendendo
a pergunta, você poderá começar a construir a resposta. Sim, construir a
resposta, pois ela não está pronta (e provavelmente nunca vai estar
completamente pronta), mas o eixo em que você deverá sustentá-la é o
ponto em comum que existe em todos os elementos de sua pergunta, que é
você mesmo. Afinal, se há alguém que é mais interessado na sua
perspectiva, só pode ser você. Então faz sentido você considerar a si
próprio como a pedra fundamental de sua própria solução. Com isso
definido, sobra a você decidir entre buscar esta solução e ser si mesmo,
indo adiante, signifique o quer que seja que isso possa significar, ou
então você pode optar por negar-se.
A
sociedade nos ensina a nos negarmos de uma forma tão continua, e às
vezes até sutil, que começamos a fazê-lo sem percebermos. São sistemas
de valores que nos são passados, sentimentos de culpa que nos são
plantados, ideias sem qualquer coerência lógica que nos são instiladas
porque alguém ou algo pretensamente superior as declarou (mas que nos
causam medo), possibilidades de erro e fracasso que nos são apontadas,
compensações materiais (em forma de dinheiro, por exemplo), compensações
imateriais (um possível perdão por sermos diferentes, o alívio do
sentimento de culpa, a chance de sairmos dessa para melhor quando chegar
o fim do mundo), e outras formas de manipulação. Tudo isso desvia nossa
atenção de nós mesmos, detonando respostas instintivas que nos colocam
em um estado de torpor. A vida então parece sem sentido ou surge um
vazio que não se consegue explicar.
Negar-se
é permanecer nesse estado. É agir como se está acostumado. O preço é
alto mas as pessoas geralmente não percebem que o estão pagando e esse é
um dos motivos de o continuarem fazendo. Mas há outro motivo. O
problema é que é difícil desligar-se de todo este comportamento
instintivo. É difícil não se deixar manipular. Quando percebemos, já
estamos de novo repetindo velhas respostas, velhos comportamentos que
nos esgotam. Um bom jeito de começar a agir é prestar atenção justamente
nesses momentos em que a energia se vai, analisar a forma que se agiu,
procurando descobrir as reações automáticas, e propor-se a ter atitudes
conscientes, ao invés de forma instintiva. Este processo de definição
terá efeitos primeiro em suas crenças porque você perceberá que muitas
das atitudes que você toma são fundamentadas na forma que você acredita
que a realidade é. Gradualmente, conforme você mudar suas atitudes, você
mudará também seus atos, pois eles apenas refletem as mesmas. E dos
atos, você acabará mudando também suas realizações.
Porém
um aviso: nada disso virá sem um preço, embora eu acredite que não
custe mais do que o preço de não assumir as rédeas de sua própria vida. A
diferença é que será um preço perceptível e consciente, ao invés do
preço imperceptível e inconsciente ao que as pessoas em geral estão
acostumadas. Ainda assim, sempre existirá algum significado, embora em
alguns momentos possamos sentir dúvidas. E sempre existirá algo além do
vazio, embora frequentemente haja ainda algum vazio a ser preenchido, e
esse vazio a preencher pode ser grande em alguns momentos da vida.
O
preço, no começo, é a sensação de indefinição, de não se saber mais com
que rótulos se descrever. Conforme se começa a descartar os rótulos e
desenvolver conceitos, as pessoas se acostumam à falta de rótulos e
depois até estranham quando alguém lhes pergunta o que elas são, ou a
qual grupo pertencem. Afinal este é um processo de busca de uma resposta
única que não tem muito a ver com rótulos ou grupos. Na sequência, o
preço vem de mudar as atitudes e atos. Mesmo insatisfeitos, nós todos
desenvolvemos, com o desenrolar dos anos que vivemos, um contexto ao
nosso redor. Mudar nossa forma de lidar com o mundo é desestabilizar
esse contexto a princípio, até mesmo quebrando alguns laços mesmo sem
intenção de fazê-lo (ou intencionalmente). Com os laços quebrados, há
uma desorientação inicial, mas pagar este preço é fundamental para se
criar novos laços.
Muitas
vezes é necessário passar por esse processo novamente, em etapas
diferentes da vida. Na primeira vez que isso acontece, a reestruturação
de crenças é que parece mais difícil. Em outras vezes, podem ser os
laços externos que configurem o que nos fragiliza mais. Os primeiros
laços perdidos são os mais doloridos. E não sei se os laços quebrados
podem ser restaurados com o passar do tempo, mas eu suspeito que sim
porque estes laços normalmente estão associados a formas de amor
(entender-se como todas as suas formas, seja fraternal, filial, amizade,
romântico, etc) e enquanto houver amor dentro de si, não se é completo
até realizar este amor, permanecendo este sentimento como parte da
pergunta individual a ser respondida. Eu já vi laços se manterem firmes
mesmo em momentos difíceis, e já pude ver laços se curarem de formas que
não se poderia imaginar. Mas também já vi laços que jamais se curaram.
Mas, é claro, quando não há amor, deixe os laços quebrados para trás.
Resta
apenas salientar que se deve sempre procurar fortalecer-se
interiormente, pois é o interior que lhe dará força para enfrentar os
desafios exteriores. Com o passar do tempo, conforme novos laços
surgirem, passa-se a contar com ressonâncias exteriores também, as quais
lhe farão sentir-se mais seguro quando precisar viver este processo de
novo. A transformação que você busca em sua vida precisa se desenvolver
de dentro para fora e, se sentir que o risco é grande demais, aja com
cautela.
O post O Prazer e a Dor
pode lhe fornecer mais alguns insights na busca de definir-se. Caso
deseje ler um pouco mais a respeito da opção de afirmar-se, ao invés de
negar-se, o post Libertando a Si Mesmo, poderá lhe ajudar nesse sentido. O post Verdades Absolutas Que Não São Tão Absolutas Quanto Parecem Ser
pode lhe dar alguns exemplos de verdades que fomos condicionados a
aceitar como universais e que podem ser questionadas. Ainda para
ajudá-lo a descondicionar-se, você pode ler o post Como Agir Diante do Bombardeio de respostas do Mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário