Quase
todos nós estamos acostumados a ver o mundo como se sempre fosse da
forma que ele é hoje. O cristianismo atual, por exemplo, condena a
astrologia quando, na verdade, no livro do Apocalipse, que é um livro
cristão, há inúmeros símbolos astrológicos. Olhe o trecho abaixo, por
exemplo:
À
frente do trono, havia como que um mar vítreo, semelhante ao cristal.
No meio do trono" e ao seu redor estavam quatro Seres vivos, cheios de
olhos pela frente e por trás. O primeiro Ser vivo é semelhante a um
leão; o segundo Ser vivo, a um touro; o terceiro tem a face como de
homem; o quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em vôo. Os quatro
Seres vivos têm cada um seis asas e são cheios de olhos ao redor e por
dentro. E, dia e noite sem parar, proclamam: "Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus todo-poderoso, 'Aquele-que-era, Aquele-que-é e
Aquele-que-vem'".
Bíblia de Jerusalém (Apocalipse, 4, 6-8)
Neste
trecho há referência a quatro seres vivos: o leão (astrologicamente
ligado ao elemento Fogo), o touro (ligado ao elemento Terra), o homem
(um pouco mais difícil de interpretar, que é ligado à emoção e ao
sentimento, relacionando-se ambos com o elemento Água) e a águia
(claramente o elemento Ar). Reforçando ainda mais o enfoque astrológico,
que diz respeito ao tempo, existem três títulos de Deus: Aquele-que-era
(passado), Aquele-que-é (presente) e Aquele-que-vem (futuro).
Também no Apocalipse há uma referência bem clara aos signos:
Vi
quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos, e ouvi o primeiro
dos quatro Seres vivos dizer como o estrondo dum trovão: "Vem!" Vi então
aparecer um cavalo branco, cujo montador tinha um arco. Deram-lhe uma
coroa e ele partiu, vencedor e para vencer ainda.
Quando
abriu o segundo selo, ouvi o segundo Ser vivo dizer: "Vem!" Apareceu
então um outro cavalo, vermelho, e ao seu montador foi concedido o poder
de tirar a paz da terra, para que os homens se matassem entre si.
Entregaram-lhe também uma grande espada.
Quando
abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro Ser vivo dizer: "Vem!" Eis que
apareceu um cavalo negro, cujo montador tinha na mão uma balança. Ouvi
então uma voz, vinda do meio dos quatro Seres vivos, que dizia: "Um
litro de trigo por um denário e três litros de cevada
por um denário! Quanto ao óleo e ao vinho, não causes prejuízo".
Quando
abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto Ser vivo que dizia: "Vem!" Vi
aparecer um cavalo esverdeado. Seu montador chamava-se "a Morte" e o
Hades o acompanhava.
Bíblia de Jerusalém (Apocalipse, 6, 1-8)
O
montador com arco é o claramente o arqueiro de Sagitário (elemento
Fogo). O montador que trazia uma balança também é simples de decifrar:
Libra (o elemento Ar). O quarto selo se relaciona com o cavaleiro que
traz a morte (é Escorpião com seu veneno, do elemento Água).
Resta
um a interpretar, o montador ligado ao segundo selo, que parece estar
um pouco mais oculto. Ele vem em um cavalo vermelho, portando uma
espada, com o poder de tirar a paz na Terra. Vamos interpretar por
exclusão: já encontramos os elementos Fogo, Ar e Água, e portanto que
resta é Terra.
Vamos,
também por exclusão, encontrar o signo correspondente. Já vimos
Sagitário (o nono signo), Libra (o sétimo signo) e Escorpião (o oitavo
signo). Minha melhor aposta é no signo de Capricórnio (o décimo signo),
que diz respeito a sacrifícios e esforços concretos (possivelmente
simbolizando a força do metal na espada), em busca de um ideal, estando
relacionado ao elemento Terra.
Ou
seja, uma das chaves para a interpretação do Apocalipse é a astrologia,
e a astrologia está sendo condenada atualmente como, no mínimo, um
misticismo infundado, principalmente dentro do cristianismo. A chave
para a interpretação deste livro cristão é, cada vez mais,
desestimulada. Mas será que, de fato, a astrologia é condenável? Ou será
que é de interesse de alguns poucos que não se possua conhecimento, nem
memória, e assim possamos ser manipulados mais facilmente? Mas o ponto
neste post não é a astrologia em si. Trata-se na realidade da reflexão
de como em uma época algo é considerado bom e até mesmo essencial, e em
outra época torna-se condenável, malígno. Os conceitos mudam e desmudam
de acordo com as conveniências de cada época. Inversões nos são
apresentadas sem que as questionemos.
Uma
das mudanças que a maior parte das pessoas nem sequer suspeita é que a
divindade nem sempre foi um ser masculino, como parece tão natural
acreditar hoje em dia. Na pré-história, principalmente porque as pessoas
não sabiam explicar o mistério do nascimento (o porquê do ser humano
nascer através das mulheres), as mulheres eram consideradas com assombro
e reverência. Isso, principalmente nas sociedades agrícolas, que não se
caracterizavam tanto pela caça, pois a caça era uma atividade
preponderantemente masculina.
Levou
muito tempo para que os homens percebessem que tinham participação na
reprodução humana (os homens não sabiam que eram pais), o que ocorreu
quase no final da pré-história (4000 a.C.), e quando o perceberam,
empenharam-se em acabar por completo com a reverência às mulheres. No
conceito que se criou então, o homem (apenas o homem) tinha a essência
do novo ser em sua semente (o sêmen) e à mulher cabia ser fértil (tal
como a terra deve ser fértil quando se planta nela uma semente). A
posição política, religiosa, social e familiar das mulheres passou a ser
secundária, inferior. E a divindade, que até então era Deusa nas
sociedades agrícolas da pré-história, tornou-se Deus. Sim, foi uma
mudança de sexo divina.
Quem começou a mudar esta desigualdade absurda foi um padre, Gregor Mendel (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mendel)
quando, no século XIX, fundou as bases da genética através de suas
experiências com espécies vegetais, descobrindo que a informação
genética de um novo ser é a combinação dos genes de ambos os gêneros
(masculino e feminino). Dessa descoberta o conhecimento científico se
transformou, bem como também o papel da mulher na sociedade humana, cada
vez mais adquirindo condições de igualdade em relação ao homem. Porém,
este equilíbrio está longe ainda de se tornar perfeito. Em muitas
sociedades, as mulheres permanecem desvalorizadas e discriminadas. Às
vezes também, buscando o equilíbrio, criam-se novos desequilíbrios.
Enfim, estamos aprendendo a coexistir.
É
importante desconfiarmos de toda forma de julgamento com base em
valores absolutos que nos são passados, pois a verdade absoluta que nos
oferecem pode ser apenas uma tentativa de manipulação, um véu sobre
nossos olhos.
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