domingo, 30 de setembro de 2012

Verdades absolutas que não são tão absolutas como parecem ser

Quase todos nós estamos acostumados a ver o mundo como se sempre fosse da forma que ele é hoje. O cristianismo atual, por exemplo, condena a astrologia quando, na verdade, no livro do Apocalipse, que é um livro cristão, há inúmeros símbolos astrológicos. Olhe o trecho abaixo, por exemplo:

À frente do trono, havia como que um mar vítreo, semelhante ao cristal. No meio do trono" e ao seu redor estavam quatro Seres vivos, cheios de olhos pela frente e por trás. O primeiro Ser vivo é semelhante a um leão; o segundo Ser vivo, a um touro; o terceiro tem a face como de homem; o quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em vôo. Os quatro Seres vivos têm cada um seis asas e são cheios de olhos ao redor e por dentro. E, dia e noite sem parar, proclamam: "Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus todo-poderoso, 'Aquele-que-era,  Aquele-que-é e Aquele-que-vem'".
Bíblia de Jerusalém (Apocalipse, 4, 6-8)

Neste trecho há referência a quatro seres vivos: o leão (astrologicamente ligado ao elemento Fogo), o touro (ligado ao elemento Terra), o homem (um pouco mais difícil de interpretar, que é ligado à emoção e ao sentimento, relacionando-se ambos com o elemento Água) e a águia (claramente o elemento Ar). Reforçando ainda mais o enfoque astrológico, que diz respeito ao tempo, existem três títulos de Deus: Aquele-que-era (passado), Aquele-que-é (presente) e Aquele-que-vem (futuro).

Também no Apocalipse há uma referência bem clara aos signos:

Vi quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos, e ouvi o primeiro dos quatro Seres vivos dizer como o estrondo dum trovão: "Vem!" Vi então aparecer um cavalo branco, cujo montador tinha um arco. Deram-lhe uma coroa e ele partiu, vencedor e para vencer ainda.
Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo Ser vivo dizer: "Vem!" Apareceu então um outro cavalo, vermelho, e ao seu montador foi concedido o poder de tirar a paz da terra, para que os homens se matassem entre si. Entregaram-lhe também uma grande espada.
Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro Ser vivo dizer: "Vem!" Eis que apareceu um cavalo negro, cujo montador tinha na mão uma balança. Ouvi então uma voz, vinda do meio dos quatro Seres vivos, que dizia: "Um litro de trigo por um denário e três litros de cevada
por um denário! Quanto ao óleo e ao vinho, não causes prejuízo".
Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto Ser vivo que dizia: "Vem!" Vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu montador chamava-se "a Morte" e o Hades o acompanhava.
Bíblia de Jerusalém (Apocalipse, 6, 1-8)

O montador com arco é o claramente o arqueiro de Sagitário (elemento Fogo). O montador que trazia uma balança também é simples de decifrar: Libra (o elemento Ar). O quarto selo se relaciona com o cavaleiro que traz a morte (é Escorpião com seu veneno, do elemento Água).

Resta um a interpretar, o montador ligado ao segundo selo, que parece estar um pouco mais oculto. Ele vem em um cavalo vermelho, portando uma espada, com o poder de tirar a paz na Terra. Vamos interpretar por exclusão: já encontramos os elementos Fogo, Ar e Água, e portanto que resta é Terra.
Vamos, também por exclusão, encontrar o signo correspondente. Já vimos Sagitário (o nono signo), Libra (o sétimo signo) e Escorpião (o oitavo signo). Minha melhor aposta é no signo de Capricórnio (o décimo signo), que diz respeito a sacrifícios e esforços concretos (possivelmente simbolizando a força do metal na espada), em busca de um ideal, estando relacionado ao elemento Terra.

Ou seja, uma das chaves para a interpretação do Apocalipse é a astrologia, e a astrologia está sendo condenada atualmente como, no mínimo, um misticismo infundado, principalmente dentro do cristianismo. A chave para a interpretação deste livro cristão é, cada vez mais, desestimulada. Mas será que, de fato, a astrologia é condenável? Ou será que é de interesse de alguns poucos que não se possua conhecimento, nem memória, e assim possamos ser manipulados mais facilmente? Mas o ponto neste post não é a astrologia em si. Trata-se na realidade da reflexão de como em uma época algo é considerado bom e até mesmo essencial, e em outra época torna-se condenável, malígno. Os conceitos mudam e desmudam de acordo com as conveniências de cada época. Inversões nos são apresentadas sem que as questionemos.

Uma das mudanças que a maior parte das pessoas nem sequer suspeita é que a divindade nem sempre foi um ser masculino, como parece tão natural acreditar hoje em dia. Na pré-história, principalmente porque as pessoas não sabiam explicar o mistério do nascimento (o porquê do ser humano nascer através das mulheres), as mulheres eram consideradas com assombro e reverência. Isso, principalmente nas sociedades agrícolas, que não se caracterizavam tanto pela caça, pois a caça era uma atividade preponderantemente masculina.

Levou muito tempo para que os homens percebessem que tinham participação na reprodução humana (os homens não sabiam que eram pais), o que ocorreu quase no final da pré-história (4000 a.C.), e quando o perceberam, empenharam-se em acabar por completo com a reverência às mulheres. No conceito que se criou então, o homem (apenas o homem) tinha a essência do novo ser em sua semente (o sêmen) e à mulher cabia ser fértil (tal como a terra deve ser fértil quando se planta nela uma semente). A posição política, religiosa, social e familiar das mulheres passou a ser secundária, inferior. E a divindade, que até então era Deusa nas sociedades agrícolas da pré-história, tornou-se Deus. Sim, foi uma mudança de sexo divina.

Quem começou a mudar esta desigualdade absurda foi um padre, Gregor Mendel (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mendel) quando, no século XIX, fundou as bases da genética através de suas experiências com espécies vegetais, descobrindo que a informação genética de um novo ser é a combinação dos genes de ambos os gêneros (masculino e feminino). Dessa descoberta o conhecimento científico se transformou, bem como também o papel da mulher na sociedade humana, cada vez mais adquirindo condições de igualdade em relação ao homem. Porém, este equilíbrio está longe ainda de se tornar perfeito. Em muitas sociedades, as mulheres permanecem desvalorizadas e discriminadas. Às vezes também, buscando o equilíbrio, criam-se novos desequilíbrios. Enfim, estamos aprendendo a coexistir.

É importante desconfiarmos de toda forma de julgamento com base em valores absolutos que nos são passados, pois a verdade absoluta que nos oferecem pode ser apenas uma tentativa de manipulação, um véu sobre nossos olhos.

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