domingo, 13 de janeiro de 2013

Realizando-se Pela Magia Branca

Quando o público leigo fala sobre magia, invariavelmente surge a velha classificação, a qual separa a magia branca da magia negra. Na realidade, o público que não é leigo, e que já tem algum contato com o tema da magia, também muito frequentemente estipula a divisão entre os dois tipos essencialmente diferentes. Algumas pessoas, para deixar o tema ainda mais complexo, utilizam-se do termo “magia cinza” para se referir a um tipo que não tem um propósito de causar o mal mas que, por efeito colateral, pode causar o mal. E há também aqueles que definem a magia simplesmente como algo neutro, que não é intrinsecamente nem branco, nem negro, embora eu acredite que esta seja talvez uma forma de se evitar ter que lidar com as implicações desta questão.

Porém como poderíamos definir de uma forma mais precisa o que qualifica estes lados, branco e negro? A definição mais simples é que o lado branco faz o bem, e o lado negro faz o mal. Diz-se que o motor de toda magia é o desejo. E eu acredito que o seja de fato, pois é do desejo que vem a “força inicial”, ou a “energia”, de uma operação mágica. Deve ser por isso que geralmente a motivação (o desejo) para realizar algo para os outros, ao invés de si mesmo, é considerada como branca. Ao passo que o desejo de realizar algo para si, ao invés dos outros, é considerado por muitos como magia negra. Se acreditarmos que essa contradição é real (entre si mesmo e os outros), isso parece justificar conceitos de magia que não estão relacionados a benefícios pessoais, às vezes nem mesmo a resultados, limitando-se a uma pacificação interior com intuito de tornar-se mais harmonioso em si mesmo e em relação ao mundo.

Harmonizar-se é um objetivo belo, mas não é magia. Pessoalmente, eu considero a magia como a arte de tornar-se criador de sua própria vida, tanto internamente, como externamente (é claro que o caminho de um mago sempre começa pela via interna, o que é a criação da base sobre a qual todo seu trabalho criativo estará fundamentado). Porém, pensando assim, se é forçado a enfrentar este aparente paradoxo entre a realização de si mesmo e a realização dos outros. O mago então precisa resolver este conflito, ou contentar-se em ser um mago negro. A respeito da opção de ser um mago negro, pessoalmente eu não acredito que alguém seja realmente feliz optando por ela. Afinal todo ser humano tem sentimentos e, por mais que os neguemos, por mais que possamos querer deixá-los sedados, eventualmente nossa capacidade de adormecê-los se esgota e precisamos enfrentá-los, ouvindo aquilo que nos cobram.

A outra opção é ser um mago branco, sendo mago por tornar-se criador de sua própria vida, e sendo branco pela busca de fazer o bem. Mas como ser si mesmo, como expressar a si mesmo, realizando-se, sem ser egoísta? Uma ideia que me parece muito útil nesse sentido é separar dois conceitos: um é o desejo em si (do que se busca realizar), e o outro é o “como” se pretende realizar. Vou tomar um exemplo que parece ser egoísta: “tornar-se rico”. Certo, a riqueza parece ser um objetivo egocêntrico para muitos, afinal ser rico pode significar tirar esta mesma riqueza dos outros e concentrá-la em si. Mas, se pensarmos bem, há várias formas de riqueza lícita no mundo, nas quais nós oferecemos nosso dinheiro espontaneamente. Nós temos diversos nomes de empresas, como Disney, Coca-Cola, Google, Microsoft, Yahoo, Apple, e outros nomes associados à riqueza. Assim, tornar-se rico não é um objetivo egoísta quando se oferece algo especial, quando se tem um papel central.

O erro, portanto, não está no desejo em si, e sim em como se pretende realizar o desejo. Ter consciência da diferença entre “o que” realizar e “como” realizar é algo fundamental. Frequentemente desejamos alguma coisa e também queremos impor o “como” irá acontecer, quando a atitude correta é deixar livre a resposta do mundo que nos cerca. Nâo é a realizaçao rápida e frágil que se deve procurar, e sim a realização estruturada e forte. Frequentemente, quando queremos nos impor à força, podemos até conseguir um resultado rápido, mas será fora de contexto, sem raízes e com laços imaturos entre pessoas imaturas. Por outro lado, se permitirmos que o mundo aja de acordo com seu próprio ritmo e natureza, as ações serão graduais, muitas vezes pausadas, porém serão diversificadas (plurais), gerando contextos cada vez mais completos, com raízes cada vez mais sólidas, entre pessoas maduras unidas por laços também maduros.

Para um mago, este não é apenas um modo de agir externo, mas também interno no que diz respeito à realização da própria magia. No que se refere às ressonâncias internas do mago com a realidade invisível, estas também não surgem com a força. Estas relações internas precisam ser também cuidadosamente cultivadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário