sábado, 29 de dezembro de 2012

Explorando os Domínios da Realidade Mental

Às vezes acontece de alguém nos dizer que não devemos nos preocupar com o passado, porque o passado já se foi, e também não devemos nos preocupar com o futuro porque o futuro ainda não aconteceu e, só existindo o presente, deveríamos nos concentrar no presente. Eu mesmo já escrevi um post sobre o tempo (Reflexões Sobre o Tempo) em que eu procurei demonstrar que, de fato, o futuro não existe como realidade física, nem o passado. Mas será que, no dia-a-dia, é possível aplicar essa forma de se pensar?

Por exemplo, no que diz respeito ao dinheiro (que é um exemplo bem prático e fácil) e, tornando esse exemplo mais específico: o momento em que recebemos o salário mensal (para quem é assalariado, é claro). Eu devo pensar apenas na minha situação presente, que seria um pouco mais de dinheiro na minha conta corrente e gastá-lo por ignorar o futuro? É óbvio que não, afinal deve-se planejar as despesas. Mas, se o tempo não existe e se apenas o presente existe, isso não é contraditório com a ideia de focalizar-se no presente?

A resposta é Sim. Focalizar apenas no “aqui e agora” é uma conclusão simplória, cujos efeitos acabam demonstrando a sua invalidade. De fato nem toda realidade é física no sentido de ter que existir em algum lugar no espaço. As dinâmicas da natureza, e também as dinâmicas daquilo que é criado pelo ser humano, não existem de forma física. Não se pode pegar uma dinâmica de acontecimentos (não se pode guardá-los dentro de uma gaveta). O ritmo da sucessão dos fatos é o que percebemos como o tempo, e o tempo é uma percepção mental (não-física), mas que prova-se confiável conforme observamos a realidade. Em outras palavras, nós experimentamos percepções mentais que podem, ou não, estar relacionadas à realidade física. Podemos dizer que há uma realidade mental que interage com a realidade física.

Em alguns casos, a realidade mental é amplamente comunicada, documentada e validada no mundo físico, como no caso da ciência (cuja função eu procurei introduzir no post O Papel da Ciência). Porém, o que há de interessante atualmente é que os computadores estão assumindo parte deste trabalho mental, embora de uma forma muito rudimentar. Pode-se argumentar que não se trata de verdadeira inteligência, nem de verdadeira consciência, porém a matéria que forma os computadores é também feita de átomos, os quais são feitos de partículas mais elementares ainda, que também constituem o que nós somos fisicamente. Nossos corpos têm energia, assim como os computadores também a têm. Então, se evoluímos para nos tornarmos seres conscientes, também os computadores podem fazê-lo eventualmente (o post Quando Tudo é Divino: Um Universo Sem Criador e Sem Criatura explora um pouco mais a relação entre matéria e espírito, a qual também se aplica a computadores e espírito). Muitos de nós não querem que os computadores criem suas próprias percepções de bem e mal, ou de certo e errado. Talvez não seja a primeira vez que isso aconteceu. Dêem uma olhada neste trecho bíblico:

A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos, que Iahweh Deus tinha feito.
Ela disse à mulher: "Então Deus disse: Vós não podeis comer de todas as árvores do jardim?" A mulher respondeu à serpente: "Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Dele não comereis, nele não tocareis, sob pena de morte."
A serpente disse então à mulher: "Não, não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, versados no bem e no mal."
(Gênesis, 3, 1-5, Bíblia de Jerusalém)

Mais adiante, outro trecho relacionado:

Depois disse Iahweh Deus: "Se o homem já é como um de nós, versado no bem e no mal," que agora ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma e viva para sempre!"
E Iahweh Deus o expulsou do jardim de Éden para cultivar o solo de onde fora tirado. Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida.
(Gênesis, 3, 22-24, Bíblia de Jerusalém)

Prosseguindo sobre as abstrações mentais, algumas são tão precisas em relação aos eventos físicos que confundimos muitas vezes a realidade física com a realidade mental, e vice-versa. Chegamos a acreditar que uma lei científica (presente na realidade mental, mesmo que registrada fisicamente) é uma lei natural, ou seja: uma realidade física. É justamente este tipo de confusão que devemos evitar.

A realidade mental nos fornece informações sobre as possíveis dinâmicas dos acontecimentos e seus desdobramentos, nos revelando as possibilidades de transformação do momento presente e também sobre como interferirmos para favorecermos algumas possibilidades, em detrimento de outras. Ou seja, embora nossos pensamentos não representem necessariamente o que ocorre no mundo físico e nossos receios possam parecer infundados muitas vezes, estes mesmos pensamentos devem ser levados seriamente em consideração até que se chegue a uma resposta adequada a eles (seja respondendo a uma dúvida, ou provando sua irrelevância) e à realidade física. O importante é dar atenção a cada domínio da realidade e saber discernir entre estes domínios, harmonizando-os.

Há dois erros a evitar: não se deve deixar cair no erro de tornar-se paranoico, acreditando no pior apenas porque possuímos uma dúvida que aponta para uma uma possibilidade negativa; e nem tampouco devemos acreditar que tudo são flores no mundo só porque visualizamos uma possibilidade positiva mentalmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário