Há
pessoas que tentam e há pessoas que se comprometem. Destes dois, que
tipo de pessoa você é? Eu coloco esta questão logo de início porque há
muitos que se interessam pelo ocultismo e até se envolvem um pouco, mas
sempre com um tanto de medo, de reserva, como se estivessem testando as
possibilidades, e nunca se firmam em coisa alguma. São pessoas que às
vezes acreditam que sabem algo por possuírem alguma erudição mas, na
realidade, sabem apenas teoricamente, sem jamais terem colocado em
prática uma teoria sequer, em meio às tantas que populam suas mentes.
Mal
sabem eles que estão enganados porque, especialmente no que diz
respeito ao ocultismo, o intelecto não basta para se atingir o
crescimento. É frequente que se tenha que dar o salto da ideia para a
ação e este salto sempre tem seu risco inerente. Quando alguém passa a
vida tentando, verificando possibilidades, mas sempre paralisando-se
pelo medo, é porque não atingiu ainda o comprometimento consigo mesmo e
passa a vida impulsionado por uma fantasia, por uma vaidade (utilizando
um termo mais adequado).
Mas
as portas não se abrem para aquele que age por vaidade, e sim por
necessidade. O vaidoso não dá valor ao que obtem. Tudo sempre lhe parece
pouco. Quando encontra algo que não compreende e lhe parece
transcendente, humilha-se e rende elogios. Quando encontra um defeito,
trai aquele que lhe estendeu a mão tão rapidamente quanto o elogiou
anteriormente. É por isso que há o oculto (e, por extensão, o
ocultismo): porque a confiança não pode ser dada a qualquer um. Não se
pode trazer para dentro de um círculo, que pressupõe união e proteção,
aquele que traz em si a semente da desunião.
No
que diz respeito à busca pessoal, não se trata de simplesmente tentar
algo. Trata-se de criar o alicerce para todo o desenvolvimento que se
seguirá na magia. Esta base precisa ser o mais perfeita possível, e
precisa ser procurada de forma individual. Ela não pode ser ensinada por
outras pessoas porque não tem valor se for obtida assim (o que não quer
dizer que não possamos observar outras pessoas e mesmo interagir com
elas). É uma base que vem de tudo o que se é, das próprias dúvidas, das
paixões (sim, até mesmo as paixões), da imaginação, dos sentimentos, das
sensações físicas, dos objetivos intelectuais, dos planos mais diversos
que se possui, buscando a congruência, por mais incongruente que tudo
isso seja. Enfim, é preciso olhar para as próprias vísceras e, buscar
realizar a si mesmo, provar a si próprio de que se é digno dessa
realização e, só então, obtendo esta congruência, uma resposta é
encontrada. A resposta que dá sentido à toda a busca que a precedeu e,
ao mesmo tempo, é o alicerce de toda a realização que se segue.
Todo
aquele que encontra esta resposta individual à questão que é si
próprio, o faz porque acreditou na existência da mesma e a buscou com
todos seus meios. Nesse processo, certamente transformou-se, e é daí que
vem o mérito para encontrá-la. Este é o primeiro grande salto. É o que
torna alguém, de fato, iniciado. É esta a iniciação que separa o neófito
do mago (ou magista, como se constuma dizer atualmente). E este é um
salto que só pode ser compreendido quando vivido. Haverá, é claro, com o
passar dos anos depois disso, muitas outras ilusões e transformações
com frequência dolorosas. Mas este é o início.
Então,
vem a pergunta: é isto que é um mago? Afinal diz-se tanto sobre os
magos, quase como se fossem sobre-humanos. E muitos acreditam mesmo que o
verdadeiro mago deve chegar às raias da perfeição. É por isso que as
pessoas acreditam ser melhor, mais humilde, se considerarem magistas do
que magos. Porém, eu acredito que esta é a primeira experiência de um
mago: o início de um longo caminho. A iniciação é mais que uma
experiência individual pois é uma nitida experiência de contato com uma
realidade mais ampla, que vai além das aparências deste mundo físico e,
ao mesmo tempo o interconecta. É o contato com uma realidade
arquetípica. É óbvio que há magos que já percorreram longamente seus
caminhos, da mesma forma que há aqueles que estão apenas no princípio de
suas buscas. O mago possui algum entendimento e sabedoria, mas jamais
possuirá todo entendimento e toda sabedoria. Na realidade, ele possui o
que necessita, não o que lhe seria vaidade.
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