Muitos
de nós, que buscamos seriamente nos desenvolver no ocultismo e na
magia, nos dedicamos tanto a este objetivo que esquecemos daquilo que
parece ser importante para as demais pessoas, aquilo que parece ser mais
trivial: as relações familiares, as oportunidades profissionais, os
momentos de lazer, enfim, as situações diversas do cotidiano de uma
pessoa comum. Caímos muitas vezes no erro de acreditarmos que não somos
pessoas comuns, que podemos nos fortalecer tendo como exemplo a imagem
de um “super-homem”, extremamente forte, invulnerável, que até é capaz
de misturar-se ao mundo, mas jamais comunga com o mundo, jamais se
revela plenamente a ele, ocultando sempre sua identidade secreta.
A
verdade é que, quando nos deixamos levar por esta atitude, não
conseguimos mantê-la por muito tempo. Nada do que é permanente na
natureza permanece em um estado só. Todo tipo de ação necessita de
repouso, para que depois do repouso surja a ação de novo. A vida na
Terra, por exemplo, vem se mantendo porque há um fenômeno denominado
“morte” que faz com que a matéria que compõe os seres vivos se recicle.
Se a morte jamais viesse, a matéria eventualmente se consumiria, e não
haveria mais como se gerar novos seres vivos.
Houve
um tempo, nos primórdios da vida neste nosso planeta, que a atmosfera
era extremamente carregada de gás carbônico, de forma que os primeiros
seres vivos que surgiram respiravam este gás e liberavam oxigênio. Se
nada ocorresse, o gás carbônico seria totalmente consumido e a vida
cessaria. Este era um perigo real para a vida. Porém a vida evoluiu e
surgiram os seres capazes de respirar justamente o oxigênio, liberando
então o gás carbônico, seres do qual nós fazemos parte. E assim, como se
estabeleceu um ciclo, a vida prosseguiu constante. Um outro exemplo:
até mesmo um fenômeno simples, como a chuva, faz parte de um ciclo, onde
existe a chuva, propriamente dita, que alimenta os rios e as plantações
e que umedece o nosso ar, regulando também a temperatura ambiental, e
existe também a evaporação cujo efeito irá condensar novas nuvens, que
permitirão novas chuvas, mantendo novamente a constância.
Só
há dois tipos de fenômenos constantes na natureza: aqueles que são
imutáveis, feito rochas, praticamente estéreis em suas relações; e
aqueles que são cíclicos, que vivem transições de estados que,
equilibradas, permitem existências perenes. Portanto, se desejamos
permanecer firmes em nossos propósitos, precisamos ser capazes de
abandoná-los eventualmente, recuperarmos nossas energias, e então nos
concentrarmos de novo.
Mas
nem sempre percebemos quando precisamos do repouso. Às vezes nos
deixamos levar por rotinas, por um modo único de fazer as coisas,
condições que impomos a nós mesmos. Acontece também de buscarmos
implacavelmente resultados, a ponto de nos esgotarmos, e ainda assim
prosseguimos tentando, como se não tentar fosse desistir. O resultado é
que caímos enfraquecidos. Eu mesmo caio neste tipo de cilada mental com
alguma frequência, mas então eu percebo o que está de fato acontecendo
nestes momentos. E para intervir com eficiência, eu tomo algumas medidas
aparentemente contraprodutivas: eu deixo um trabalho para outro dia, me
dedicando a outra coisa, ou alongo um prazo pessoal de uma semana para
duas, deixo de cumprir uma expectativa de alguém com relação à qual não
estou conseguindo cumprir, etc. Tudo isso acaba contribuindo para que eu
recupere minhas forças e me levante novamente.
A
ideia central é o equilíbrio. Pense naquele equilibrista de pratos que
mantém um monte de pratos girando. Ele gira um prato de cada vez. Ele
não consegue girar todos os pratos de uma vez só. Então ele fica atento
ao que está mais desequilibrado e dá um reforço para aquele prato,
reforçando o giro, e assim mantém todos equilibrados. É exatamente assim
que devemos procurar ser. Precisamos identificar o que está
desequilibrando em nossas vidas, esquecer o resto e dar atenção àquele
ponto específico. Quando quem amamos precisa de nossa presença e
carinho, paramos e damos atenção e carinho. Quando as crianças precisam
de nós, nos voltamos para as crianças. Quando o trabalho requer nossa
atenção, focalizamos no trabalho. Quando nos cansamos, descansamos.
Quando nos entendiamos, quebramos a rotina.
Então
vem o medo: e se deixarmos algo desequilibrar por muito tempo, e aquilo
cair e ruir. Daí vem uma segunda ideia, a de que não devemos agir
sozinhos. Não devemos procurar controlar a realidade ao nosso redor em
todos os detalhes diretamente. Não devemos supervisionar tudo o que
acontece. Simplesmente não conseguimos fazer isso. No nosso
relacionamento com o mundo, não é benéfico “pescar o peixe”, e sim
ensinar a pescar. Assim, quando nos ausentarmos, alguém nos substitui.
Da mesma forma, devemos aceitar o ritmo das pessoas ao nosso redor,
principalmente quando precisam ausentar-se, ou quando não conseguem
acompanhar o ritmo que desejamos manter. Agindo assim, seremos
constantes em nossos ideais e, mais importante, quando não estivermos
presentes, o mundo será capaz de mantê-los sem nós.
Estes
são princípios que nem sempre conseguimos realizá-los, muitas vezes
falhamos em um ou outro. Mas quando nos concentramos neles, tendemos a
executá-los de forma cada vez mais perfeita. Basta usar os próprios
recursos que se tem, entre eles a imaginação, a emoção, o desejo e a
razão e, sendo tolerante consigo mesmo, tornando-se cada vez melhor.
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