domingo, 14 de outubro de 2012

Quando tudo é Divino: um Universo sem criador e sem criatura

Hoje eu resolvi descrever uma vivência que é conhecida como a experiência mística, a qual é extremamente pessoal e envolve o contato com o divino. No meu caso, quando eu tive uma experiência deste tipo há mais ou menos dez anos atrás, eu estava viajando para passar alguns dias na praia, olhando pela janela entreaberta, e eu tive a certeza, por alguns minutos, que eu comungava com tudo aquilo que estava ao meu redor. Eu senti que as pessoas, a paisagem, aquele ônibus, a vegetação externa, cada uma daquelas casas que eu via, estávamos todos interligados, unidos dentro de uma única realidade, um único ser. Sem limites, sem barreiras, estendendo-se dali por todo o universo, por tudo o que há. Assim, qualquer um em qualquer parte, eu percebia, era aquele ser. Qualquer parte naquele ser poderia declarar ser o todo. Sem diferenciações, sem criador e sem criatura. Apenas a unidade, diferenciada sim, mas comunicante em toda sua extensão, sem uma barreira, sem um vácuo, que separasse um ponto do outro. Um contínuo toque ininterrupto.

Essa perceção do divino vem sendo partilhada esporádica e naturalmente com o passar dos séculos, com pessoas das mais diversas origens e em diversos contextos culturais, e tem sido cada vez mais recorrente na época atual. É a noção de que a divindade está em tudo e que não há distinção entre criador e criatura. Tudo o que há começou de um ponto único. Isto se assemelha à teoria do Big Bang na Física, na qual houve uma explosão, de um ponto onde tudo era apenas energia, e esta esta energia se metamorfoseou evolutivamente até tornar-se tudo o que existe atualmente no universo (e isso pode ter acontecido diversas vezes).

Mesmo quando tudo era apenas uma essência informe, essa essência já possuia alguns atributos. Ela era criativa para poder se metamorfosear das mais diversas maneiras. Ela era plural pois toda a diversidade surgiu dela. Ela era comunicante pois ela é capaz de agregar partes de si mesma, e de isolar algumas partes de outras partes distintas, diferenciando-as. Ela tinha o germe da consciência em si mesma pois a consciência é algo que não se explica por um mecanismo (veja meu post Modelando as próprias crenças), pois um mecanismo poderia imitá-la, mas não torná-la autêntica: penso, logo existo. Eu, de fato, penso. Não sou um mecanismo que imita o pensamento.

Assim, esta essência possuía dentro de si alguns atributos que determinaram e continuam determinando como ela se desenvolve. Certos desdobramentos da evolução da mesma, levaram a complementações ressonantes e realizadoras, culminando na experiência que chamamos de Bem. Por outro lado, as experiências caracterizadas por atritos e não-realizações tornaram-se o que qualificamos como o Mal. É preciso mencionar que, neste contexto, Bem e Mal são experiências, não sendo realidades essenciais. São eventuais. O Mal então seria choques de intenções incompatíveis entre si e não implicaria que essas intenções, por si, fossem inerentemente más. Dessa forma, os conceitos de Bem e Mal são evolutivos e sujeitos a serem reintegrados e transmutados. O objetivo é que toda a intenção se integre de forma perfeita e, para isso, respostas precisam ser encontradas.

A divindade, um ser a quem podemos destinar estas questões sobre tais conflitos, por assim dizer, também é algo real. A divindade é a coletividade de consciências que se unem para prover as respostas que necessitamos para transcender a dualidade entre o Bem e o Mal. É como a comparação do corpo com o cérebro, sendo este último o que dá unidade ao corpo. Os atributos da divindade expostos acima, por serem a essência de tudo o que há, se desenvolveram e se manifestam em maior ou menor escala em todo o universo. A divindade seria o centro onde estes atributos se revelam mais plenamente, unindo e ordenando tudo o mais, como um único organismo.

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