No post anterior, eu coloquei alguns princípios sobre o uso benígno do dinheiro.
Uma consequência de reformular o conceito do uso do dinheiro implica
também em mudar como definimos a riqueza. Muitas pessoas pensam em
riqueza como o extremo acúmulo do dinheiro e, na realidade, este acúmulo
gigantesco não deveria existir, afinal o dinheiro deve fluir para
cumprir seu papel, e não permanecer acumulado e estagnado. Como
conciliar então a ideia da riqueza?
Há
quem tenha, como maior sonho, o de se tornar rico. Não me refiro às
pessoas que o tentam fazer de forma desonesta e sim às pessoas que se
dedicam dia a dia a um negócio pensando nos lucros que podem ser
gerados, nos prejuízos que os assombram, ou então nos esforços e
sacrifícios que “devem” ser realizados para conseguir uma promoção, seja
para ser o novo supervisor, ou o novo gerente, diretor, presidente.
Estas pessoas acreditam que a riqueza seja possuir o dinheiro, e é aí
que está o erro pois a riqueza está em usufruir, relacionar-se, explorar
as possibilidades do mundo e de si mesmo, o que não tem nada a ver com
possuir. O simples fato de possuir uma imensa quantidade de dinheiro sem
utilizá-lo é um contrasenso pois, possuindo-o dessa forma, não se
explora suas possibilidades.
A
riqueza está, em primeiro lugar, dentro de si mesmo, na liberdade de
ser e pensar, no bom funcionamento do próprio corpo, na expressão do
corpo, percebendo seus limites, percebendo o prazer e a dor (eu exploro o
tema das sensações no post O Prazer e a Dor).
Sim, o prazer e a dor, porque são a base de nosso aprendizado e também é
um tipo de riqueza a liberdade de errar, acertar e aprender.
A
riqueza está também em se relacionar com as pessoas, ter amizades,
revelar seus talentos (uma das formas de se realizar isso é o trabalho),
deixar-se servir dos talentos de outras pessoas, ter uma companhia, ter
filhos e conviver com os filhos, tornando-se sempre jovem interiormente
por estar em contato com a juventude deles. A riqueza está em poder
amar os filhos, sejam meninos ou meninas, de uma forma tão pura como
jamais seria possível amar outra pessoa, nem mesmo a pessoa que se
escolheu como companhia.
A
riqueza está em viver cada etapa da vida, sendo plenamente criança,
plenamente jovem, plenamente solteiro (ou solteira), plenamente casado
(ou casada), ou então optar por outras possibilidades como o claustro
religioso, por exemplo. A riqueza também está em ser plenamente idoso,
pois ser idoso também é uma etapa da vida e ser verdadeiramente rico
implica em viver todas as etapas, extraindo o máximo de experiência de
todas elas.
A
riqueza está também em ter a liberdade de tratar bem a quem se ama, ou a
quem se se sente o legítimo impulso de caridade. A riqueza também está
em encontrar conforto no mundo e nas pessoas, em se permitir receber
carinho e ser cuidado. A riqueza também é material quando, nos sentindo
como crianças, nos espantamos com uso da tecnologia. Em suma, a riqueza
diz respeito a relacionar-se, a ser e expressar-se, a ser cada vez mais e
a expandir essa expressão no mundo, como se fosse uma grande tela e nós
fôssemos os artistas pintando esta tela.
A
riqueza diz respeito inclusive ao dinheiro, quando nos relacionamos com
ele e o permitimos fluir. Quando se descobre a verdadeira natureza da
riqueza, se torna possível perceber que o dinheiro pode fazer parte
dela, mas não é a maior parte, pois podemos acessar a riqueza do mundo
quando enriquecemos quem somos, definindo nosso papel, e desenvolvemos
nossa expressão no mundo. Dessa forma, o uso do dinheiro, em si, se
torna menos necessário. Na realidade, assim é a riqueza vivenciada da
forma correta. A forma incorreta seria o acúmulo desenfreado do dinheiro
para se tentar obter um atalho, tentando evitar a forma natural de
realizar-se no mundo.
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