Hoje
eu gostaria de iniciar uma reflexão nova, cuja intenção é levar a
outras em posts futuros. Talvez em sintonia com o Dia de Finados, eu
quero começar a discutir a respeito da natureza dos espíritos. Há
pessoas que acreditam que os espíritos podem caminhar entre nós, tal
como nós caminhamos, ver a luz e as imagens tal como nós somos capazes
de ver, ouvir sons como nós ouvimos e até mesmo sentir a brisa tal como
sentimos, como se estivessem permanentemente entre nós, deslocando-se
tridimensionalmente em nosso meio sem que os percebêssemos.
O
problema desta visão é que, apesar de parecer simples, ela peca em
diversos detalhes do que realmente significa ver, ouvir e tocar. No
mundo físico, ver é interceptar a luz. Quando vemos algo, a luz é
obstruída por nossos olhos, deixando de ser luz, e manifestando sombra
(efeito da obstrução da luz). Quando ouvimos algo, só o fazemos porque
nossos ouvidos interceptam as vibrações do ar, contendo o ar, e
desfazendo o vento. Quando tocamos alguma coisa, existe uma resistência
entre nós e aquilo que tocamos, manifestando-se pressão e atrito. Isso
quer dizer que, se um espírito visse o mundo da mesma forma que nós
vemos, se ele ouvisse da mesma forma que nós ouvimos, e se seu toque
fosse da mesma forma que nós tocamos, seria totalmente cego (a luz o
atravessaria, sem provocar sombra), surdo (não sendo capaz de conter o
ar, não perceberia as ondas sonoras) e incapaz de tocar o mundo (não o
poderia fazer atravessando objetos físicos, sem exercer pressão sobre
eles).
No
entanto, não quero dizer que os espíritos sejam, de fato, cegos, surdos
e totalmente alienados do mundo. O que quero dizer é que esta visão
sobre a natureza espiritual onde almas permanecem caminhando na Terra,
como se tudo continuasse a ser como antes (exceto o fato de não serem
percebidos tão facilmente pelos vivos e de poderem atravessar pessoas e
objetos), é simples demais para ser real. É necessário que existam
outros sentidos que substituam os sentidos físicos e, sendo estes
sentidos de um outro tipo, também possuem qualidades novas e limitações
inerentes.
A base ondem se apoiam estes sentidos não-físicos foi explorada no meu post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura.
Ali eu coloquei um postulado em que a divindade e a criação não seriam
seres separados, e sim um mesmo e único ser que, em um certo momento
(que poderíamos considerar como sendo um começo, um princípio, ou mesmo o
princípio de um ciclo), era apenas uma essência não-manifesta e que
depois tornou-se manifesta: a divindade metamorfoseando-se na criação. A
divindade e a criação como um único ser. Porém não estava implícita,
naquele post, a relação do mesmo com a natureza dos espíritos.
Portanto,
prosseguindo, em toda a existência está o divino. Dessa forma, seja na
energia ou na matéria, em cada partícula, em cada átomo, em cada
molécula, em cada célula, em cada ser multicelular, está o divino. Isso
vale para a existência física, mas também vale para a existência
espiritual. Desde já, perdôem-me o termo vago “existência espiritual”,
que diz muito pouco sobre o que é a natureza não-física (ou o astral).
Mas a proposta aqui é justamente começar a desvelar um pouco este
mistério, ainda que muito incompletamente. Enfim, postulando que a
divindade está em tudo o que há, seja físico ou espiritual, e também que
o divino é consciente e comunicante, encontramos aí os atributos que
unem o físico ao espiritual: em tudo há consciência e comunicação
(atributos da divindade). A natureza física e espiritual se comunicam.
Estando
a divindade em tudo, seus atributos também estão em tudo, incluindo a
capacidade de ter consciência e de se comunicar. Seja na matéria, na
energia ou no espírito, em qualquer nível (nos objetos, em um grão de
areia, na água da chuva), aí está o divino, consciente e comunicante. O
que ocorre é que estes atributos se desenvolvem de uma forma mais
simples em um grão de areia do que em um ser humano, sendo mais
claramente perceptíveis neste último. Ainda assim, estão presentes em
tudo o que há.
Para
um espírito ver, ele precisa se comunicar com uma consciência no mundo
fisico que lhe dê visão. O mesmo se aplica a todos os outros sentidos. O
espírito poderia tentar se comunicar com uma árvore para poder
senti-la, ou com qualquer outra coisa, tal como um grão de areia, ou as
gotas de água da chuva. Mas um espírito humano desencarnado normalmente
não sabe se comunicar com uma árvore, ou com os grãos de areia, ou com
as gotas de chuva. Portanto ele procura referências mais familiares,
abordando outros seres humanos. O espírito então vê com os olhos de
outras pessoas, toca com as mãos de outros, sente o paladar pelo paladar
de outros, ouve pelos ouvidos de outros. Em muitos casos, o espírito é
levado a este contato movido por seus próprios vicios, procurando
estimular estes mesmos vícios naquele com quem entra em contato. Mesmo
quando não é esta a intenção, podem ocorrer experiências e consequências
que não são benígnas para quem é alvo desse contato.
Em
teoria deve haver espíritos incapazes de se comunicar com outras
pessoas, explorando alguma dificuldade para se comunicarem. Da mesma
forma que devem existir espíritos capazes de se comunicar com
consciências do meio físico (animais, vegetais e minerais). E, é óbvio,
há espíritos não-humanos.
Tomando
como pano de fundo esta comunicação, há muitas implicações que podem
render muitos posts para refletirmos sobre diversos aspectos a respeito
da natureza espiritual. Uma das consequências, por exemplo, é o fato dos
espíritos normalmente conseguirem revelar às pessoas somente aquilo que
a humanidade de alguma forma já sabe, de acordo com o nível da ciência
atingido até então (pois, em geral, percebem o mundo a partir dos
sentidos humanos). Os espíritos não trazem consigo revelações
cientificas que ainda não tenham sido descobertas pela humanidade,
embora em alguns casos consigam obter muita informação científica já
conhecida (possivelmente respostas mais complexas e precisas são
fornecidas por espíritos que se estruturam e se comunicam entre si,
formando uma espécie de rede, ou um círculo). Allan Kardec
mesmo, forneceu dados científicos que adequavam-se às observações da
época, até então, mas que provaram-se incorretos conforme a ciência
evoluiu. Isso foi usado como argumento contrário à mediunidade, porém eu
dou-lhe um voto de confiança pelos motivos que descrevi.
Como
minha proposta é de estimular a livre reflexão, cabe a cada um pensar
nas implicações do que lhes descrevi aqui e também dos possíveis
paradoxos que surgirem daí.
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