Uma
questão que me intrigava há alguns anos atrás era relacionada à relação
entre a alma e o cérebro. Eu me questionava a respeito do porquê de
existirem memórias no cérebro, e também existir a capacidade de
raciocínio (e pensamento de uma forma mais abrangente) no próprio
organismo físico, se o que controla o corpo é a alma. Afinal, se o corpo
é apenas um fantoche no qual a alma assume o controle, porque
particularmente o cérebro precisa ser tão complexo?
Vou
dar um exemplo do que eu quero dizer. Quando eu era pequeno existia uma
propaganda de um brinquedo que era um robozinho chamado Arthur. Na
propaganda o Arthur pegava objetos, levava de uma pessoa para outra, e
tinha um som engraçado. Então eu me apaixonei pelo robozinho. Eu queria
ter aquele brinquedo de qualquer jeito. E minha mãe comprou o brinquedo.
Normalmente eu não tinha o luxo de ter todos os brinquedos que eu
queria, mas aquele brinquedo eu tinha ganhado. Colocamos a bateria e eu
fui ver como funcionava. O princípio era simples: era um robô que andava
sempre para frente mas, se eu apertasse um botão no controle remoto,
ele andava em círculos dando marcha ré, até que eu soltasse o botão e
ele ia adiante de novo. Enquanto ele fazia isso, saía um som: “Bi! Bi!
Bi! Bi!”. Os bracinhos eram de plástico e não se moviam por si mesmos,
nem mesmo eram capazes de segurar algum objeto. Enquanto ele estava
ligado, uma luz vermelha acendia e apagava.
Eu
demorei pouco tempo para perceber que o robô não era independente, que
não tinha inteligência, nem memória alguma dentro de si e que quem
detinha o controle dele era eu. Assim é que algumas pessoas acreditam
que seja a relação entre o corpo humano e a alma: de controle total por
parte da alma. Só que essa relação não faz sentido. Se fosse para a alma
ter controle total sobre o corpo, o cérebro não precisaria ter todas as
funções que tem. Seria sim um mero receptor, tal como o receptor dos
comandos de controle remoto no robozinho Arthur: sem qualquer poder de
decisão real, sem qualquer inteligência e sem qualquer individualidade.
Então
eu pensei na possibilidade de uma redundância. Ou seja, de uma forma em
que o que estivesse no cérebro estivesse também na alma, como uma
espécie de cópia. Se algo fosse armazenado no cérebro, seria também
armazenado na alma. Só que a redundância também não fazia sentido.
Afinal, porque registrar algo duas vezes, quando você pode fazê-lo uma
vez só? E porque fazer isso se o corpo eventualmente morre e perde tudo o
que estava em si? Permanecia a questão: porque apenas a alma não contém
em si toda a cognição do indivíduo, se é ela que detém o controle?
Eu
só fui compreender essa relação entre corpo (pois é ali que está o
cérebro) e alma quando enfim eu entendi que são duas coisas distintas
que se comunicam e interagem ao invés de existir uma relação de controle
entre uma e outra. A ideia que me atraiu em especial foi a teoria do
universo holográfico, de David Bohm,
em que tudo o que ocorre em qualquer lugar, deixa marcas em todo o
universo. No domínio da física, a teoria começou com o fenômeno das
correlações quânticas (que acontecem à distância, sem uma relação de
proximidade envolvendo causa e efeito e, ainda assim, sendo uma
comunicação instantânea), levando à compreensão de que não há fenômenos
isolados no universo independente de quão distantes estejam dois locais
entre si. Não levou muito tempo para David Bohm
encontrar implicações filosóficas e metafísicas na sua teoria. No tema
deste post, da relação entre corpo e alma, a alma seria esta extensão
comunicante que existe em todo o universo. A expressão do corpo se
manifestando no universo instantaneamente. A alma teria um foco no
corpo, mas não estaria contida nele, podendo alcançar, de fato, tudo o
que existe.
A
alma seria uma rede de ressonância associada ao corpo de forma que,
quando o corpo se desfizesse, a alma permaneceria. Mas permaneceria
onde? Espalhada em todo universo físico. Isso é possível se a
consciência ser uma característica intrínseca da existência física, de
forma que um estado cognitivo possa se expressar à matéria e à energia
fisicamente existentes, comunicando-se (veja o post Quando Tudo é Divino: Um Universo sem Criador e sem Criatura para obter mais detalhes sobre este conceito). Assim, pretendo dar continuidade ao post Como o Mundo Espiritual Percebe o Mundo Físico,
no sentido de tentar compreender ainda mais a realidade espiritual. A
realidade astral seria, portanto, atrelada à realidade física como um
todo, da mesma forma que a realidade física é atrelada à realidade
astral.
Mas
como fica a questão da reencarnação? Eu acredito na reencarnação, porém
de uma forma pessoal, não atrelada à qualquer religião. Eu penso que,
quando está sendo formado o corpo de um bebê (mesmo sendo ainda um
feto), é de fato um novo ser, sem memórias ainda e com sua
individualidade. O que se passa então, no caso da reencarnação, é a
aproximação e o contato contínuo de uma alma (um ser antigo) com um ser
novo, que é o corpo. Conforme esta aproximação e contato se mantêm e,
ambos os seres se comunicam (alma e corpo), o corpo passar aprender
sobre a alma, harmonizando-se com ela e, da mesma forma a alma aprende
com o corpo, harmonizando-se com ele. Dessa forma, todo bebê é um novo
ser e, ao mesmo tempo, um ser antigo. É claro que há outros aspectos
relacionados à reencarnação, porém desejo abordá-los em outra
oportunidade.
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