sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Uniões Baseadas em Troca X Uniões Baseadas em Ideais

Há dois tipos de uniões. Uma é a união por motivo de interesse, onde existe a troca de uma coisa por outra. E a outra é a união com base em um ideal comum, ou no prazer comum de estar junto ou de sentir-se como que pertencendo a algo.

No tipo em que impera a troca, a união cessa quando um lado não tem mais o que oferecer, ou seja, quando acaba a "moeda de troca". Essa "moeda de troca" pode ser o dinheiro, mas também pode estar representada por meios mais sutis como, por exemplo, a subserviência, como impera na magia negra quando alguns buscam servir a algo ou alguém que consideram mais forte e poderoso, na esperança que ganhem algumas migalhas e tenham mais "sorte" do que outras pessoas que aparentemente seguem pela senda mais difícil.

Mas este tipo de subserviência não se limita à magia negra exclusivamente pois, na realidade, também pode ser motivada pela inconsciência. É a inconsciência que leva uma pessoa a adotar falsamente uma "postura cristã" (embora não se possa generalizar todos os cristãos) em que afirma amar e adorar Jesus, uma vez que após a morte é essa adoração que lhe garantirá a vida eterna no paraíso, ao invés da danação eterna. Mas acontece que esta pessoa pouco conhece a respeito de quem é Jesus para que possa realmente amá-lo. Mas isso não importa, pois o que precisa ser feito é evitar a danação eterna... Interessante como muitas religiões tiram proveito disso, aproveitando o fato de que as pessoas não são perfeitas quando comparadas a um Jesus mítico (que não é a mesma coisa que o Jesus histórico), e fazendo-as sentirem-se constantemente em débito e, muitas vezes, a forma simples de saldar esse débito é com dinheiro (relação de troca).

Percebe-se que não são questionamentos puramente imorais, nem tampouco puramente morais, que estão envolvidos nas uniões baseadas em troca, pois a troca pode ser tanto movida por um impulso moral (no caso do cristão, por exemplo) ou imoral (no caso da magia negra, por exemplo). O que de fato caracteriza a união baseada na troca é que ela não é sustentada pelo que uma pessoa é, mas pelo que ela tem, ou pela vantagem que ela pode oferecer, normalmente de forma imediata.

Já na união por um ideal, não importa aquilo que você possui, nem aquilo que você pode oferecer no momento, mas aquilo que você ama. Na sua forma mais comum, é o que une as pessoas quando se amam (seja um casal, sejam pais e filhos, etc), e é também o que une as pessoas em uma causa comum (proteger a natureza, combater a miséria, etc). Na magia existem uniões entre o mago e o que está em ressonância a ele. Quando estas uniões se estabelecem por ideais comuns, o que quer que seja feito no mundo para outras pessoas, deve ser feito de graça ou pelo mínimo custo. Pois não é lícito pagar por algo que é a manifestação de um dom gratuíto. É evidente que as pessoas têm despesas, principalmente quando se dedicam desinteressadamente a um propósito e, nesse caso, não se deve confundir o conceito de “pagar por algo” como se fosse a mesma coisa que “ajudar nas despesas”.

No entanto, no esoterismo e ocultismo, há quem exija pagamentos realmente extorsivos, muito além do que se poderia chamar de razoável. Pode-se argumentar que cobra-se por algo porque se está sempre disponível e dedicado mas, se estar disponível e dedicado é o "preço" para se ter um dom, então existe um sistema de troca onde o “dom” só é dado se abrir-se mão de outros aspectos na vida. Aí nâo se trata de uma união por ideais. Enfim, este é um tema delicado.

Nas uniões verdadeiramente baseadas em ideais comuns, as pessoas não são coagidas a agirem de uma forma ou outra, e não perdem a união só por passarem um tempo lidando com suas próprias vidas. São verdadeiramente livres. Dessa forma, as uniões por ideais são éticas no sentido que todos vivem por um princípio de igualdade. Existem funções diferentes entre aqueles que estão unidos, mas não diferenças de status.

Em ambos os tipos de uniões (por troca ou ideais), os objetivos das mesmas são os mais diversos. E quanto ao número dos que participam nelas, também há uma grande variedade. Certos objetivos conquistam mais pessoas, quando estão à favor da cultura dominante, e outros objetivos tendem a criar círculos mais fechados e ocultos, quando vão contra a cultura dominante. O que não quer dizer que os círculos mais abertos sejam melhores (nem piores). Há muito preconceito cultural e este é um dos motivos do termo "ocultismo" ter justamente esse nome. Seria maravilhoso se todas as uniões fossem baseadas em ideais, não em troca. Porém é necessário reconhecer que há uma ampla diversidade de pessoas no mundo, com uma gama diversa de valores, e dependemos direta ou indiretamente do mundo inteiro. Assim não podemos esperar que todas nossas uniões sejam criadas apenas com base em ideais comuns. Seria utópico, pois não teríamos acesso à grande parte da riqueza do mundo. Não há problema real em obtermos dinheiro por nosso próprio esforço, quando representamos valor para o mundo, oferecendo esse valor e acrescentando algo nosso. E podemos acrescentar muito de nosso trabalho ao esoterismo e ao ocultismo, se tivermos esta vocação, e sermos recompensados por isso. Porém, as nossas uniões essenciais (as mais importantes), que são as espirituais e as relacionadas aos nossos laços sentimentais (inclusive os laços de amizade), são mais sólidas se forem uniões por ideais pois, caso não o sejam, se quebrarão quando se consumirem nossas "moedas de troca".

De fato, quanto mais amplas forem nossas uniões por ideais, mais sólida será a vida em si pois tais uniões nos fortalecerão em situações de crise. Na magia, criar uma rede de ressonância ampla e una a a si mesmo, baseada em ideais, é um dos maiores objetivos. Conforme esta rede se amplia, as uniões baseadas em troca tornam-se cada vez mais secundárias e passamos a depender cada vez menos delas.

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