Há
dois tipos de uniões. Uma é a união por motivo de interesse, onde
existe a troca de uma coisa por outra. E a outra é a união com base em
um ideal comum, ou no prazer comum de estar junto ou de sentir-se como
que pertencendo a algo.
No
tipo em que impera a troca, a união cessa quando um lado não tem mais o
que oferecer, ou seja, quando acaba a "moeda de troca". Essa "moeda de
troca" pode ser o dinheiro, mas também pode estar representada por meios
mais sutis como, por exemplo, a subserviência, como impera na magia
negra quando alguns buscam servir a algo ou alguém que consideram mais
forte e poderoso, na esperança que ganhem algumas migalhas e tenham mais
"sorte" do que outras pessoas que aparentemente seguem pela senda mais
difícil.
Mas
este tipo de subserviência não se limita à magia negra exclusivamente
pois, na realidade, também pode ser motivada pela inconsciência. É a
inconsciência que leva uma pessoa a adotar falsamente uma "postura
cristã" (embora não se possa generalizar todos os cristãos) em que
afirma amar e adorar Jesus, uma vez que após a morte é essa adoração que
lhe garantirá a vida eterna no paraíso, ao invés da danação eterna. Mas
acontece que esta pessoa pouco conhece a respeito de quem é Jesus para
que possa realmente amá-lo. Mas isso não importa, pois o que precisa ser
feito é evitar a danação eterna... Interessante como muitas religiões
tiram proveito disso, aproveitando o fato de que as pessoas não são
perfeitas quando comparadas a um Jesus mítico (que não é a mesma coisa
que o Jesus histórico), e fazendo-as sentirem-se constantemente em
débito e, muitas vezes, a forma simples de saldar esse débito é com
dinheiro (relação de troca).
Percebe-se
que não são questionamentos puramente imorais, nem tampouco puramente
morais, que estão envolvidos nas uniões baseadas em troca, pois a troca
pode ser tanto movida por um impulso moral (no caso do cristão, por
exemplo) ou imoral (no caso da magia negra, por exemplo). O que de fato
caracteriza a união baseada na troca é que ela não é sustentada pelo que
uma pessoa é, mas pelo que ela tem, ou pela vantagem que ela pode
oferecer, normalmente de forma imediata.
Já
na união por um ideal, não importa aquilo que você possui, nem aquilo
que você pode oferecer no momento, mas aquilo que você ama. Na sua forma
mais comum, é o que une as pessoas quando se amam (seja um casal, sejam
pais e filhos, etc), e é também o que une as pessoas em uma causa comum
(proteger a natureza, combater a miséria, etc). Na magia existem uniões
entre o mago e o que está em ressonância a ele. Quando estas uniões se
estabelecem por ideais comuns, o que quer que seja feito no mundo para
outras pessoas, deve ser feito de graça ou pelo mínimo custo. Pois não é
lícito pagar por algo que é a manifestação de um dom gratuíto. É
evidente que as pessoas têm despesas, principalmente quando se dedicam
desinteressadamente a um propósito e, nesse caso, não se deve confundir o
conceito de “pagar por algo” como se fosse a mesma coisa que “ajudar
nas despesas”.
No
entanto, no esoterismo e ocultismo, há quem exija pagamentos realmente
extorsivos, muito além do que se poderia chamar de razoável. Pode-se
argumentar que cobra-se por algo porque se está sempre disponível e
dedicado mas, se estar disponível e dedicado é o "preço" para se ter um
dom, então existe um sistema de troca onde o “dom” só é dado se abrir-se
mão de outros aspectos na vida. Aí nâo se trata de uma união por
ideais. Enfim, este é um tema delicado.
Nas
uniões verdadeiramente baseadas em ideais comuns, as pessoas não são
coagidas a agirem de uma forma ou outra, e não perdem a união só por
passarem um tempo lidando com suas próprias vidas. São verdadeiramente
livres. Dessa forma, as uniões por ideais são éticas no sentido que
todos vivem por um princípio de igualdade. Existem funções diferentes
entre aqueles que estão unidos, mas não diferenças de status.
Em
ambos os tipos de uniões (por troca ou ideais), os objetivos das mesmas
são os mais diversos. E quanto ao número dos que participam nelas,
também há uma grande variedade. Certos objetivos conquistam mais
pessoas, quando estão à favor da cultura dominante, e outros objetivos
tendem a criar círculos mais fechados e ocultos, quando vão contra a
cultura dominante. O que não quer dizer que os círculos mais abertos
sejam melhores (nem piores). Há muito preconceito cultural e este é um
dos motivos do termo "ocultismo" ter justamente esse nome. Seria
maravilhoso se todas as uniões fossem baseadas em ideais, não em troca.
Porém é necessário reconhecer que há uma ampla diversidade de pessoas no
mundo, com uma gama diversa de valores, e dependemos direta ou
indiretamente do mundo inteiro. Assim não podemos esperar que todas
nossas uniões sejam criadas apenas com base em ideais comuns. Seria
utópico, pois não teríamos acesso à grande parte da riqueza do mundo.
Não há problema real em obtermos dinheiro por nosso próprio esforço,
quando representamos valor para o mundo, oferecendo esse valor e
acrescentando algo nosso. E podemos acrescentar muito de nosso trabalho
ao esoterismo e ao ocultismo, se tivermos esta vocação, e sermos
recompensados por isso. Porém, as nossas uniões essenciais (as mais
importantes), que são as espirituais e as relacionadas aos nossos laços
sentimentais (inclusive os laços de amizade), são mais sólidas se forem
uniões por ideais pois, caso não o sejam, se quebrarão quando se
consumirem nossas "moedas de troca".
De
fato, quanto mais amplas forem nossas uniões por ideais, mais sólida
será a vida em si pois tais uniões nos fortalecerão em situações de
crise. Na magia, criar uma rede de ressonância ampla e una a a si mesmo,
baseada em ideais, é um dos maiores objetivos. Conforme esta rede se
amplia, as uniões baseadas em troca tornam-se cada vez mais secundárias e
passamos a depender cada vez menos delas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário