Muitas
vezes eu escrevo sobre realização, em ser um artista que transforma o
mundo ao redor a partir de si próprio, enfatizando que a realização não
deve ser considerada um atributo meramente interno, mas também externo,
para que seja completa. Porém, de uma forma inversa ao que muitos podem
imaginar, a realização externa não significa adaptar-se plenamente aos
padrões de sucesso no mundo. Não se trata de tornar-se excelente nas
exigências exteriores, e sim de perceber sua própria essência, quem você
é de fato, e de levar esta essência ao mundo. É apresentar algo novo ao
invés de adaptar-se ao que foi definido por outros, e este algo novo a
ser apresentado é você mesmo.
Alguns
dizem, por exemplo, que uma pessoa de sucesso precisa estar motivada
para trabalhar doze horas por dia e sete dias por semana e que, para se
ter sucesso, é preciso dedicar tudo de si, sacrificando até mesmo as
suas férias anuais e seu contato com a família. Ou então dizem que você
deve aprender sobre todas as novidades para manter-se atualizado
profissionalmente. Ou então algo mais banal, como a roupa que você veste
que, em tese, condiz ou não com a imagem e o efeito que você quer
causar. A ideia comum é que se deve estar sempre à frente de tudo o
mais, competindo com tudo o mais, e vencer sempre, por mais difícil que
isso seja.
De
fato, este modelo comum de sucesso é algo cada vez mais difícil de ser
realizado e, quando as pessoas questionam se está difícil demais, a
resposta é que não há outra direção a seguir, senão esta, e que a única
escolha está em ceder à fraqueza, e falhar, ou vencer os obstáculos e
permanecer bem sucedido. E muitos acreditam nesta resposta, buscando
expandir suas influências cada vez mais agindo de acordo com este
conceito. A falha deste modelo é que é baseado em competição e, quanto
mais se é capaz de expandir-se, mais competidores se encontra pelo
caminho. Assim, eventualmente, não se é possível crescer mais. Neste
ponto alguns ainda tentam crescer contra a oposição esmagadora,
consumindo o que ainda têm.
Não
que esteja errado trabalhar muito, seja em horas por dia, ou dias por
semana. Tampouco está errado sacrificar-se por algo. Também não está
errado buscar melhores qualificações profissionais. E, é claro, não há
erro algum em você escolher o tipo de roupa que você considera mais
adequada. O erro não está no que se faz e sim no porquê se faz. O
trabalho deve ser motivado pela própria satisfação de realizá-lo. O
sacrifício sempre deve ser por um ideal, por algo que se ama. O
aprendizado sempre deve corresponder ao verdadeiro interesse. Você deve
verdadeiramente se sentir bem com a roupa que veste (ou sentir-se
coerente consigo mesmo em relação ao seu trabalho, caso tenha de estar
uniformizado). A raiz de seus atos precisa estar ligada à você, aos seus
propósitos, e não aos propósitos de outros.
Nenhuma
das atitudes citadas é essencial, por mais que alguns apregoem que
sejam. O mundo está cheio de possibilidades, com toda uma pluralidade de
consciências que buscam outras que pretendam colaborar em seus
objetivos, ao invés de competir. Há uma infinidade de caminhos que podem
ser seguidos, ao invés dos poucos que tantos se empenham em fazer que
acreditemos serem os únicos. O X da questão é procurar estes caminhos,
encontrá-los, e embrenhar-se neles.
Na
magia, há três etapas na busca destes caminhos. Na primeira etapa
prepondera a preparação potencial interna, correspondendo ao esforço de
congruência de si mesmo que culmina com a iniciação, passando então ao
desenvolvimento das relações com o próprio inconsciente.
Na
segunda etapa, há o impulso de expansão do que há dentro de si para
fora, para o mundo que o cerca. Existe um ponto de equilíbrio perigoso,
quando estruturas e relações externas quebram, ao mesmo tempo que uma
estrutura nova se expande. É quando se aprende o que difere você de
todos os demais que, até então, considerava que sempre fariam parte de
seu caminho. Seria bom se essa lição pudesse ser aprendida sem erros e
sem motivo de arrependimento causado pelos erros, mas não é o que
acontece com frequência. É a desintegração da imagem que tem para que a
mesma seja reconstruída.
Na
terceira etapa, as novas estruturas amadurecem e se expandem mais
ainda, e você vê sua realização em progresso. O que eu considero
interessante neste ponto é que fatos improváveis acontecem (sob o ponto
de vista de outras pessoas) pois o que liga você a tudo o que lhe
realiza é uma conexão de essências (sua e de tudo o mais), contra todas
as aparências, a despeito da ausência dos símbolos de status que o mundo
costuma relacionar ao sucesso.
Em
suma, o mundo busca apenas a opção para a qual está condicionado se
direcionar. Não há nada de especial nesta opção, que está sob o olhar de
muitos que competem por ela. A única forma de vencer nestas condições é
sendo o melhor competidor, o que se torna cada vez mais difícil quanto
mais se consegue expandir (pela expansão igual da oposição), mas não
precisa ser assim. Quando uma pessoa especial encontra outra pessoa
também especial, que compartilhe de seus ideais, não há competição,
tratando-se de uma ligação única. E quando estas duas pessoas encontram
uma terceira que compartilha do mesmo ideal, os laços se expandem, e
prosseguem se expandindo conforme mais pessoas se unem, nas mesmas
condições.
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