Uma
mudança realmente profunda que ocorre após a experiência de congruência
(a qual culmina com o contato com o SAG - veja o post Falando de Minha Própria Iniciação na Magia)
é a transformação da identidade do mago em si. Mas quando digo uma
mudança de identidade, não me refiro somente à percepção de ser iniciado
na magia (que também é uma mudança), mas também me refiro à forma como
alguém se relaciona com o mundo ao seu redor, e também sobre como se
define em relação a este mesmo mundo. Mas isso não é algo que se percebe
de uma vez, e sim com o passar do tempo, com o passar dos anos mais
precisamente falando.
A
verdade é que se experimenta um dom, mas não no sentido comum da
palavra que sugere algo inato. Não, não é algo inato, mas é algo que lhe
é dado, e é nesse sentido que é um dom. Nem tampouco é a única vez que
isto ocorre. Pelo contrário, trata-se de um ciclo que pode repetir-se
inúmeras vezes. E a visão externa que as demais pessoas têm de alguém
que vive este processo também muda. Em certas circunstâncias pode ser
dolorido quando nos veem de forma diferente e se decepcionam conosco,
embora isso certamente é algo necessário, uma vez que, se nos enxergam
como não somos, todos os laços que se mantém não são verdadeiros e, por
isso mesmo, cedo ou tarde revelam-se frágeis. Mas a mudança a que me
refiro agora não tem esta conotação pesada, nem de forma alguma
negativa. Na realidade, tem mais a ver com as restrições às quais
acreditamos estar sujeitos, sobre o que poderíamos ser mas, por causa de
um histórico de fracassos, não o somos e acreditamos não ser capazes de
nos tornarmos. Na realidade esta voz que insiste em nos dizer o que não
podemos ser é o ego, o qual interpreta a realidade por um ponto de
vista muito restrito.
Não
que o ego seja malígno em si, mas o fato é que ele é apenas o princípio
da consciência, e surge das percepções mais físicas que temos do mundo,
as quais são mais aparentes e, por isso mesmo, nos parecem ser “mais
certas”. Mas a percepção física tende a nos fazer acreditar que a
realidade é feita de objetos e seres isolados, sobre os quais se tem
pouca influência e, por essa razão, somos levados a temer o que é
diferente de nós e do qual não podemos prever como se comportará. Às
vezes o medo prepondera e nos sentimos incapazes de nos realizar.
Contudo, frequentemente optamos por agir de forma agressiva, pensando
que se tivermos mais força ou, se pelo menos aparentarmos mais força,
podemos nos impor àquilo que não conhecemos. A ânsia de enriquecer, por
exemplo, é um meio de tentar impor-se pela força. Em suma: o ego não é
malígno em si mas sustentar-se nele, pura e simplesmente, leva à uma
sucessão de efeitos que podem ser considerados malígnos por muitos. É
necessário perceber essa dinâmica e ser capaz de compreender o ego tal
como ele é, com todas as suas limitações.
O mago, após ter comungado com seu Sagrado Anjo Guardião, começa a ter contato com sua Sombra (um termo de Carl Gustav Jung)
a qual é formada por tudo aquilo que negamos pela limitação do ego, ou
seja: tudo aquilo que afirmamos que não podemos ser. Parte dessa Sombra é
tocada pela rede de ressonância interna que foi criada pelo mago e a
experiência de congruência faz com que ela comece a se manifestar mais
visivelmente. E, quando isso acontece, possibilidades que antes pareciam
“fechadas” na vida alguém, começam a se abrir. E o mundo ao redor
percebe isso. A vida então se divide entre um Antes e um Depois.
Pessoalmente,
minha vida era bem diferente antes de eu realizar minha própria
congruência. Eu era excessivamente tímido e me escondia atrás do que
parecia ser mais fácil lidar: computadores ao invés de pessoas. Meu
vocabulário, meus assuntos, tudo era muito restrito. E eu me afundava
ainda mais na minha concha, cada vez mais estranha ao mundo ao meu
redor. Mas, as pessoas me consideravam extremamente inteligente e
competente, principalmente no que dizia respeito a desenvolver software,
e eu tentava fazer juz a essa imagem. Só que tudo isso era apenas um
estereótipo. As pessoas não percebiam que eu só era daquela forma porque
eu não ousava ser de outra maneira.
Conforme
a Sombra foi se manifestando cada vez mais em minha vida, experiências
novas foram surgindo. O namoro, o casamento, novos desafios
profissionais, os filhos, novas atitudes em relação às pessoas (mais
confiantes, menos inibidas), um uso melhor do meu lado direito do
cérebro (enfim aprendi a desenhar...). Tudo isso aconteceu aos poucos e
eu pretendo me referir a estas experiências, às vezes mais claramente e
às vezes menos, dentro do contexto da minha busca na magia. Na
realidade, o desafio que eu me imponho é justamente este: relembrar,
etapa por etapa, colocando detalhes e cuidando para não ir muito além do
ponto em que eu os tinha percebido até então.
Isso
não quer dizer que eu tinha abandonado de todo minha timidez, ou que
não consiga usar o vocabulário que usava antes, ou que tenha deixado de
desenvolver software. Só que tudo isso era a única faceta que eu
expressava e agora há outras facetas que equilibram as anteriores,
mudando a minha expressão como um todo. É claro que nem tudo foi feito
de flores. Houve quedas enormes. Há um período negro que aguarda todo
aquele que busca expandir sua consciência mais e mais. É a chamada Noite Escura da Alma, ou Dark Night of the Soul
como é dito em inglês, a qual trata de um período realmente difícil. Eu
já até mesmo conhecia o termo quando eu havia realizado minha própria
congruência, mas estava tão encantado por tê-la realizado que nem
pensava a respeito. De fato, levou realmente um longo período até que eu
vivesse minha própria Noite Escura. Como é um tema ainda fora de
sequência, ainda não vou expor a este respeito, mas fica aí a ressalva
de que, embora haja situações muito agradáveis, as fases mudam. Porém,
com o tempo, nos tornamos melhores em antecipá-las e agir em relação às
mesmas.
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