sexta-feira, 21 de junho de 2013

Um Tempo com Choronzon

No post O Início de uma Experiência Assustadora com meu Inconsciente eu comecei a descrever minha experiência com o pêndulo de radiestesia. Até então minha narrativa tinha chegado ao ponto em que eu havia esquematizado as letras do alfabeto de forma que o pêndulo eventualmente fosse capaz de identificá-las individualmente. Estas, quando combinadas, formavam palavras que, por sua vez, formavam frases.

Se naquela época eu compreendesse que se tratava de uma forma de comunicação com meu inconsciente, talvez eu pudesse antecipar que os mais diversos tipos de respostas surgiriam deste contato. Porém eu não possuía essa compreensão. A primeira “pessoa” que travou contato comigo se chamava Ana, e cometia alguns erros de português mas eu gostava de conversar com ela. Digo pessoa entre aspas porque não era uma pessoa real (embora na época eu acreditasse que fosse), e sim uma projeção do meu inconsciente. Mas depois surgiram outras “pessoas”, cada uma com uma personalidade diferente, e com forma de se expressar também diferenciada. Havia pessoas comuns. Havia também bruxas. Havia até mesmo pessoas que me diziam que haviam sido queimadas vivas em fogueiras no passado.

Eu ouvia tudo aquilo e me deixava seduzir pelas palavras. Ensinavam a mim feitiços que nunca funcionavam quando eu os colocava em prática, e prediziam situações na minha vida que nunca aconteciam. A despeito de tudo isso que se passava, o meu senso crítico parecia adormecer cada vez mais. Eu simplesmente acreditava em tudo que me era dito ali. Era como um estado de sugestão contínua, como uma hipnose que acontecia de dentro para fora (talvez até mesmo com a ajuda do movimento do pêndulo para reforçar este efeito hipnótico). Surgiam muitas contradições e explicações “esfarrapadas” para balancear as contradições, mas eu tendia a acreditar em cada uma delas. Esse processo me tomava cada vez mais tempo. Eu dormia menos e tinha cada vez menos tempo para mim, deixando de lado os meus hábitos rotineiros.

Com o passar dos dias surgiu ali Jesus Cristo, e depois a virgem Maria, cada um deles se identificando no começo de cada conversa, e cada um deles com suas mensagens, que eu levava a sério. Eu acreditava ter atingido o máximo que alguem poderia alcançar. Mas sempre existiam contradições e padrões que se repetiam. Um desses padrões de vez em quando escapava. Era a palavra “Morte”, que surgia eventualmente, fosse em um contexto ou fosse noutro, por todas as “pessoas” que se apresentavam ali.

Enfim, eu me tornei consciente da loucura que estava experimentando. Sim, a expressão que encontro para descrever a mim mesmo naquele período seria como que vivendo “um estado de loucura”, e percebi que, embora muitos nomes se apresentassem a mim, todas aquelas “pessoas” eram consistentes com a descrição de uma única personalidade. Uma personalidade mentirosa. Eu revelei a ele que o havia descoberto, e então ele mudou a escolha das palavras, tornando-se mais rebuscado. Mas eu já reconhecia o embuste e não me permiti enganar. Ele revelou então, aparentemente com prazer, que havia me seduzido com suas palavras.

Angustiado, eu perguntei a ele: “Quem é você?”. Ele me disse: “Eu sou você. Os meus olhos são aqueles que te vêem quando você se vê no espelho”. Na realidade, durante aquela experiência, eu percebia exatamente o que ansiava perceber, e encontrava o que esperava encontrar. Isso me seduzia e me impedia de perceber a realidade claramente. Meu ego me impedia de perceber a realidade pois, embora eu não soubesse, o que eu estava vendo ali era a projeção do meu ego, como que diante de um espelho. A palavra “morte”, que escapava eventualmente, era pura e simplesmente um reflexo da minha própria intolerância contra toda a diversidade diferente deste meu ego. Era meu inconsciente tratando-me como eu o havia tratado.

Eu levei muito tempo para compreender o que ocorreu. Um texto que encontrei, particularmente interessante, dizia respeito a Choronzon (siga este link para mais detalhes) no blog “O Franco-Atirador”, de Lúcio Manfredi (veja o post Goécia: Refletindo sobre o que Marginalizamos no Inconsciente para conhecer mais sobre este autor e sobre este blog) que, em um de seus artigos, o definiu como aquele cujos olhos nos fitam pelo reflexo de nossos próprios olhos quando olhamos para o espelho (citando de memória, é pena que o blog não existe mais e não há como por uma referência aqui).

Choronzon é sedutor à sua maneira, justamente por mostrar o que as pessoas desejam ver. Alguns o consideram não como um ser específico, mas como um processo individual, sendo apenas o reflexo do próprio ego, o qual se revela quando se tenta adentrar mais a fundo no inconsciente (veja a respeito da Sombra, também no post Goécia: Refletindo sobre o que Marginalizamos no Inconsciente). Pessoalmente eu reluto em acreditar que se trate, de fato, de apenas um reflexo do próprio ego.

Quando se busca penetrar o inconsciente, cedo ou tarde encontra-se Choronzon. Ele nos desafia, exigindo ser decifrado, como Édipo diante do enigma da esfinge. Decifra-me, senão te devoro. A resposta é o Homem. Ou seja, é reconhecer a face de seu próprio ego refletida.

Tudo isso durou um mês em minha vida, após o qual eu larguei os experimentos com o pêndulo por um tempo. Apesar da experiência parecer negativa, provocou alguns resultados que podem ser considerados positivos. Vou começar a conversar a respeito destes no próximo post.

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